terça-feira, 17 de maio de 2011

Tumor Cerebral

Talvez esteja com os olhos abertos, não há como ter certeza. Não enxergo um palmo a minha frente, escuto um zumbido terrivelmente agudo, o som vai aumentando, dominando minha mente. Sinto o sangue escorrendo de minhas orelhas. Ele abre caminho entre os pelos de meu rosto, faz uma curva em meu maxilar e por fim cai sobre meu ombro nu. O zumbido fez uma pausa. Um silêncio profundo toma conta do local, e isso me faz refletir sobre algo: afinal onde estou? O que esta acontecendo?


Não consigo mover um músculo sequer, tentativas e tentativas insignificantes. Der repente uma luz branca extremamente forte surge em minha frente - agora sei, estou de olhos abertos. O zumbido retorna numa intensidade que não consigo descrever, meus pensamentos foram bloqueados, o sangue escorre novamente de meus ouvidos. A luz se apaga e o zumbido se foi mais uma vez.


Há uma voz de uma garotinha que clama por ajuda e piedade. Ela chora enquanto se diz arrependida de algo que fez. A voz parece estar se aproximando vagarosamente de mim. Mais e mais perto, aquele choro sussurrado, os pedidos de socorro... Gritos! Ela grita e soluça nos intervalos de seu choro, como se alguém a estivesse espancando. Meu coração acelera, sinto lágrimas em meu rosto, não sei o que fazer, quero gritar, fugir, sair dali e voltar para casa... Mas espere, não tenho casa. Quem sou eu afinal? Não sei qual é meu nome, minha idade, nada. Não sei nada. Não sou nada.


Silencio. A voz se foi, em minha frente vejo um grande telão, escuto o barulho dos rolos de filmes, estou eu num cinema? No telão, a imagem em preto e branco mostra a contagem regressiva. Começa um filme suponho. Uma família aparentemente feliz num churrasco no quintal, todos sorrindo, crianças brincando e aquela mulher, tão linda. Quando me acostumei com aquilo, acabou. Agora um homem num taxi, tinha uma expressão de tristeza. Começou a chorar enquanto um cartaz com a propaganda de cerveja refletia em seus óculos. Vejo vidas assarem em um telão e as assisto como se fossem filmes. Vidas que uma hora são felizes, outra tristes, simples ou confusas.


Sou um maldito vegetal babando enfrente a uma TV quebrada que emite um terrível som chiado e mostra a imagem de chuviscos preto e branco brigando pelo espaço máximo da tela. Estou nu, sentado em uma poltrona mofando em um quarto imundo com paredes azuis e que já estão descascadas. Uma lâmpada de luz faca piscava sobre minha cabeça.


Uma propaganda de sofás na TV, minhas filhas brincando ao meu lado e minha linda esposa preparava o jantar, era mais uma noite de sábado em...

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