quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Reverenciando o Sol

Uma hora toda a dor é amenizada e então surge um sentimento de impulsividade, de coragem para atitudes que você não teria antes. Eu estava trancado, literalmente, dentro de casa durante duas semanas. Bebendo todos os dias, fumando dezenas de cigarros e escrevendo cada dia menos. Mas como acabei de dizer, uma hora a dor é amenizada e o sujeito toma coragem de por a cara pra fora de sua toca.

Eram 22 horas quando essa vontade de sair da minha zona de conforto bateu. Sem explicação logica, mas era algo sentimental, que vinha de dentro. Tomei um banho longo, deixei toda a sujeira que estava grudada em cada célula do meu corpo cair junto à água do chuveiro e escorrer pelo ralo. Após o banho, me encarei, como de costume, de frente ao espelho. Não sentia a raiva e o ódio mais, sentia algo novo, queria algo novo. Olhei para toda pelugem em meu rosto, cerca de seis dedos de barba e então com uma tesoura consegui tirar cinco dedos.

Sem pressa terminei de me aprontar para encarar o mundo lá fora. Vesti as roupas que sempre usava: calça jeans, camisa preta, all-star e uma camisa xadrez velha por cima caso esfriasse durante a noite. Enchi meu cantil, peguei a chave do carro e me mandei pela porta.

Dirigir para mim era algo relaxante. Você pode sentir, de certa forma, as rodas do carro deslizando pela estrada, enquanto o vento bate contra o capo. Liguei o rádio, toca o CD da minha banda favorita, Pearl Jam. A música, juntamente da estrada vazia e da lua cheia... Era tudo que eu precisava naquele momento.

Rodei por algum tempo, até encontrar um píer que dava de frente para um vasto campo aberto, talvez um parque ambiental. Encostei meu carro e fui me sentar num banco bem na ponta do píer. Devia ser bem tarde, não havia ninguém por lá, estava muito quieto e ventava um pouco.

Respirei fundo com meus olhos fechados e soltei o ar devagar, era mais um meio de aliviar a dor. Comecei a dar pequenas goladas no cantil enquanto fumava um cigarro. A visão, mesmo que pouca devido à vasta escuridão, ainda sim era magnífica e única.

Sentado ali, diante do nada, pensando em nada, apenas respirando fundo, passei horas desta maneira. Enquanto o sol nascia, diante de meus olhos, via um brilho naquela grande bola flamejante que eu não havia notado antes, talvez por estar sempre carregando tanta raiva dentro de mim, não quis parar por um segundo e notar tal brilho. Era realmente bonito, o sol se erguia, iluminava cada pedaço de terra, cada ser vivo daquela região, ele fazia o seu trabalho e muito bem.

Agora eu entendia, o sol era como um ser humano, bonito por dentro e explosivo ao mesmo tempo. Todos temos nossos dias ruins, temos de por pra fora de alguma forma, como um instinto. Mas mesmo assim, todos temos algo de especial dentro, mesmo que bem lá no fundo. Essa é a beleza do ser humano, até mesmo o pior de todos, se é que podemos classificar alguém melhor ou pior de maneira geral, possui algo diferente.

Aquela altura eu já estava bêbado, mas eu estava feliz por passar minha madrugada contemplando a beleza dos pequenos detalhes da natureza que cerca essa maldita cidade de pedras. Sentia-me aliviado com tudo aquilo. Era a hora de voltar para casa, então peguei meu carro e voltei para minha vida.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Adeus Inesperado

Passava horas em frente a maquina, nada saia dela. Era uma semana difícil. Difícil de comer, beber, acordar, viver. Minha bebedeira havia aumentado, andava muito nervoso com algo e com uma grande tristeza sem motivo.

Fui até o mercado para comprar mantimentos como: bebidas, cigarro e algo que seria fácil de cozinhar, ovos por exemplo. Não havia muita variedade de bebidas lá, peguei algumas garrafas apenas. Estava economizando dinheiro, afinal a economia não contribuía muito com os meus vícios. A fila estava grande. Gente pobre é como a comida que eles compram. Um saco de biscoitos é para aqueles que têm mais de três filhos, pros bastardos fecharem a boca comendo. Comida congelada é para os que têm um emprego regular de salário mínimo e consegue bancar a comida mais cara. Bebidas são para os que não estão dando a mínima para a vida já que estão no fundo do poço e não acreditam que podem descer mais. Assim como eu.

Finalmente chegou a minha vez. O atendente era esquisito, tinha espinhas na cara, o cabelo longo e uma cara de bobo. Quando me viu, analisou minhas compras como se ele fosse superior a todos os clientes do estabelecimento, apenas por ser ele quem “determina” quanto você estará perdendo para ele.

- A noite promete hein! Tantas garrafas, o senhor deve estar preparando uma festa...

Eu o encarei com todo o ódio que eu sentia aquela semana toda, direcionei isso tudo para os olhos dele que me encaravam de volta.

- Olha aqui sei pedaço de merda, por que você não faz a porra do seu trabalho e não me enche o saco! Eu só quero pagar e ir pra casa me encher de cachaça, de uísque, do diabo que for! Então cala a merda da sua boca e faça o seu trabalho!

Ele me olho com hostilidade e surpresa, então, sem falar nada, apenas passou minhas compras e eu o paguei. Sai rápido de lá. Malditos atendentes!

Guardei tudo em casa, tirei somente uma garrafa de conhaque e um maço para começar o processo de descarrego mental. Era impossível não sentir toda aquela energia negativa no ar. Tudo se tornava pesado e frio. A bebida que descia pela minha garganta era como o liquido da morte, rasgando tudo dentro de mim e queimando cada célula.

Bebi durante horas, a garrafa sempre parecia estar mais cheia, mesmo eu bebendo um copo a cada 15 minutos. Decidi tentar por pra fora, o álcool começava a subir a cabeça, era a hora de tentar escrever. Sentei-me enfrente a máquina, ajeitei o papel, meu copo e o cinzeiro. Tomei um gole, respirei fundo e comecei. Seria algo fora de livros, contos para jornais ou revistas. Seria apenas uma carta, para mim.

Eu estava focado, a coisa começava a andar. E então, bateram em minha porta.

- Hei! Cocain tem um telefonema pra você lá embaixo, no bar.

- Tá! Já vou descer.

Virei o copo, aquilo tinha me enfurecido. Deixei minhas coisas como estavam e fui até lá atender ao maldito telefonema.

O dono do bar que ficava embaixo da pensão onde eu morava se chamava Arthur. Ele era o cara bacana, cuidava dos bêbados da região, logicamente, dando mais álcool aos pobres rejeitados da sociedade. Mas ele os tratava com respeito, o respeito que um viciado pode merecer.

- Obrigado Artie.

- Nhá! Disponha Cocain.

Para Freud, a morte era uma questão inevitável para seguirmos vivos. No meu modo de ver, a morte é algo que muitos tendem a esquecer, enquanto outros “vivem a espera”. Ninguém consegue fugir da morte, ela chegará para todos. Não deveríamos viver presos às regras de outros. Não deveríamos fazer o que nos é ordenado, para podermos viver. Nós deveríamos viver livre. Mas o que é a liberdade? Viver em uma sociedade onde a ordem é lucro a todo custo? Ou em uma sociedade em que a igualdade é a ordem, porém ninguém merece nenhum reconhecimento maior por seu esforço se não for dividir o lucro com todos ao redor.

Não há uma maneira de decidirmos o que é ser livre, o que é ser feliz, o que é viver bem. Não podemos fazer o que quisermos, o que acreditamos ser o caminho da nossa felicidade. Viver é uma merda se você é forçado a fazer algo. Morrer é uma merda se você não sabe o que acontece quando você morre, POR QUE VOCÊ ESTÁ MORTO!

Eu me sentei novamente em frente a maquina, mas algo havia mudado após o telefonema. A raiva, o ódio, ambos foram embora e deram lugar a tristeza. Eu me sentia podre por dentro. Olhava para o pedaço de papel rabiscado e não via nada. Não queria beber, não queria fumar, não queria escrever, não queria viver. Encarava o papel como se ele fosse um espelho que mostrava a minha verdadeira face. O meu eu não era de se apreciar, eu estava enjoado de tudo o que via. A realidade caiu diante de meus olhos.

É difícil encarar o seu verdadeiro ser. Você nunca irá gostar do que descobre. Eu via tudo o que perdi, por culpa minha. Na cabeça era tudo claro por alguns segundos, mas não durou muito e logo a duvida surgiu. O que fazer agora? Estou morrendo aos poucos, não há como voltar atrás. E o pior de tudo, estou sozinho.

A vida não seria mais a mesma depois daquilo. Algo dentro de mim acabara de morrer. Esse pedaço será insubstituível e a dor será inconsolável, não importa o quanto eu beba, fume ou qualquer outro meio de me matar seja escolhido. Você se foi e isso é real, eu nunca mais vou poder te olhar nos olhos outra vez. Ficara na memória apenas as lembranças de manhãs maravilhosas ao seu lado na mesa do café. O seu toque, seu jeito de falar, suas frases e seu abraço inconfundível, serão essas lembranças que sempre guardarei. Pois eu te amo e não tenho mais medo de dizer. Peço perdão por dizer isso tantas vezes como uma simples resposta. Eu te amo, sempre amarei seja viva ou morta, você sempre será a mais importante na minha vida.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Mélanie

Eu havia marcado um encontro com uma mulher que tinha escrito para mim algumas vezes. E uma dessas vezes ela me mandou uma foto sua, nua. Seu corpo era delicado, pele rosada, algumas pintas em sua barriga. Seus seios eram pequenos, mas com mamilos apontados para frente, como duas pistolas prontas para atirar diretamente no seu coração. Depois de observar diversas vezes aquela foto, notei uma pequena marca, semelhante a um coração, ao lado da sua vagina.

Seu nome era Mélanie, uma jovem de 28 anos, francesa de cabelos loiros, encaracolados, olhos azuis e lábios finíssimos. Eu ficava excitado só de olhar para ela. Suas cartas não eram como a de outras mulheres, ela descrevia a leitura de uma forma descomunal, com amor. Há anos não via algo assim, alguém realmente apaixonado pela arte de escrever.

Ela dizia que amava meu jeito grosseiro de escrever, dizia que se sentia uma pervertida, porém mantinha sua delicadeza feminina. Meus escritos regados por bebidas e sexo a faziam sentir como uma verdadeira mulher, amada e odiada, cheia de prazer e raiva. Essa mulher entendia a coisa.

Sentia-me nervoso, por isso estava bebendo mais do que o de costume, antes de encontrar com uma mulher desconhecida. Pensamentos como: Elas vinham e logo após me verem, iam embora discretamente, caso demorassem a chegar. Ou até mesmo que elas logo perderiam o interesse ao perceberem que eu não sou o cara mais sociável do mundo.

Ergui meu copo e tomei todo o liquido que havia dentro dele, rum com coca, uma das minhas bebidas favoritas. Então, sentou-se uma mulher magnifica, de cabelos loiros e olhos azuis, era Mélanie. Ela olhou para mim, com um grande sorriso no rosto e disse:

- Olá! Minha nossa, eu não acreditei que você realmente estaria aqui, eu estava muito nervosa, me desculpe pela demora.

Senti-me aliviado após aquilo.

- Eu não seria louco de te deixar esperando por nada aqui.

- Mas que gentileza.

Ela era ainda mais linda pessoalmente. Pude notar o quanto a sua pele era macia e corada. Linda!

- E como vão seus escritos? Algo novo?

- Bom, não gosto de falar muito sobre isso... Mas tudo bem. Eu tenho escrito menos nos últimos dias, a bebida tem tomado conta de quase todo o meu tempo livre.

- Quanto você tem bebido?

- Cerca de 19 horas por dia...

- MINHA NOSSA! E você nunca para pra dormir?!

- Tem horas que eu apago.

- Você parece ter problemas com álcool, não acha?

- Eu acredito ter muitos problemas, álcool seria a solução para eles. Não deveríamos falar sobre isso mais, vamos mudar de assunto.

- Está bem, o que você achar melhor.

Conversamos durante horas. Era algo novo e divertido tudo aquilo, não ficar apenas imaginando como seria quando saíssemos bêbados de lá. Afinal, eu não acreditava que seria como com as outras, já não estava sendo.

- Pelos seus livros você passa outra imagem de si. Mas esta noite eu vi um lado novo e muito especial, aparentemente.

- O que quer dizer com isso?

- Nos livros, você parece apenas um velho rabugento e muito triste por coisas do passado, talvez da sua infância ou coisas familiares. Aqui, conversando com você e olhando nos seus olhos, percebo o quanto você é feliz, mas apenas não sabe disso. Tem um coração bom, é um homem jovem e muito bonito! Seus pensamentos, apesar de serem contrários de quase toda a sociedade, são muito valiosos e revolucionários. Adorei te conhecer, de conhecer esse seu lado.

Aquelas palavras, malditas palavras, mexeram comigo. Nunca alguém foi capaz de dizer algo tão profundo e verdadeiro. Parei para pensar em tudo aquilo durante alguns minutos e vi que ela estava certa. Apesar de tudo, eu poderia me sentir bem comigo mesmo, em algum momento da minha vida.

- Vamos tomar a ultima dose e dar uma volta lá fora? – Eu propus.

- Mas é claro!

A noite estava encantadora. A lua iluminava a rua, juntamente das estrelas que enfestavam o céu negro. Uma brisa gelada fazia Mélanie tremer de frio, então a abracei gentilmente. Paramos em uma praça, próxima a minha casa.

- Acho que essa é a noite mais feliz que eu tenho nos últimos meses. – Ela disse em tom sereno.

- Fico feliz em saber que foi em minha companhia.

Nós nos olhamos naquele momento. Nossos rostos se aproximavam devagar. Senti minha barba em seu rosto, em seguida foram nossos lábios.

- Vamos para outro lugar, aqui esta ficando muito frio. Sua casa não fica por perto?

- Minha casa não é o lugar ideal para eu te levar agora.

- E por que não? Há alguém lá?

- Não, não é isso. Eu apenas não me sentiria a vontade em te levar para um lugar que fede a cigarro, bebida e vômito para estragar nossa noite.

- Não! Vamos para lá, não tem do que se envergonhar. Vamos, por favor.

Ela não se importava com o ambiente em que estaríamos, a menos que estivéssemos juntos, para ela seria ótimo.

Entramos em minha casa e eu a entreguei um copo, limpo, com conhaque e coca. Conversamos por mais alguns minutos enquanto bebíamos sentados em minha cama. Um sentimento novo estava no ar. Era quente, de fazer o estômago formigar de ansiedade. Era sexual, puro e intenso.

Deixamos os copos sobre o carpete, enquanto tirávamos nossas roupas devagar, deitamos na cama. Ela subiu em mim e começou a me beijar. Parava por alguns segundos, apenas para me olhar dentro dos olhos e sorrir com delicadeza, porém com uma grande expressão de sexualidade.

Ficamos durante horas nos aprofundando em nossos fluidos corporais. Então, quando não sobrou mais nenhuma força para movermos nossos músculos, deitamos ofegantes e acabados. Dormimos em segundos.

Tive um sonho muito estranho com uma freira me chupando enquanto eu, bêbado, procurava por algum sinal de esperança em um bar velho com acessórios de navegações naufragadas. Acordei ao lado de Mélanie e pensei: Ficarei com ela por algum tempo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Bêbado como a Morte

Eu caminhava durante a tarde, o sol, como de costume, fritando meus miolos. As pessoas andavam, praticamente corriam devido ao maldito estresse da rotina de trabalho semanal. Filhos das putas!

Todo escritor tem o seu período de “bloqueio mental”, as ideias surgem, mais não criam raízes. Elas aparecem e logo se vão, como as nuvens no céu. Decidi circular pelas ruas observando a vida estúpida das pessoas ao meu redor, é uma ótima maneira de levantar seu ego. Eu estava preparando a terra para então plantar uma nova ideia.

Fumava um cigarro olhando fixo para os meus pés se movendo, pra frente e pra trás. Mas uma agitação iniciava-se bem na minha frente. Carros da polícia, ambulâncias e um caminhão do corpo de bombeiros apitavam suas sirenes dos diabos.

Aquilo poderia render algo para uma nova história, “para se escrever, é preciso viver”. Decidi contrariar meus ideais e ir a favor da maré, então fui ver o que havia rolado de perto.

Um ônibus enorme rachou um carro, um Uno branco, ao meio. O motorista ainda estava preso no banco da frente e um bombeiro tentava socorre-lo. Aquilo não me impressionou o suficiente, era até entediante. Passei direto, pude ouvir os gemidos do motorista.

Todos os dias parecem ser iguais, completamente monótonos e nostálgicos. Parei para tomar um café. O lugar era bacana, sem muita gente, clima agradável, nada parecido como o inferno que estava lá fora.

Sentei, pedi um cappuccino. Tirei meu caderno e minha caneta do bolso, os ajeitei sobre a mesa e fiquei os encarando por um tempo. Onde esta você? O que esta pensando nesse momento...

Quando minha bebida chegou, trazida por uma garçonete incrivelmente linda, pedi uma dose de pinga:

- Olá meu anjo, você poderia me trazer uma dose daquelas?

Sua voz era compatível ao seu rosto assimétrico, porém maravilhoso, ainda mais com aqueles lindos olhos verdes e lábios vermelhos.

- Posso dar um jeito, mas nós trabalhamos apenas com doses de uísque, vodca, rum...

- Traga uma de uísque e uma de rum, por favor, minha linda!

Ela se virou mostrando toda aquela bunda em cima de suas pernas torneadas expostas numa calça legging. Fiquei de pau duro.

Eu estava excitado, comecei a me masturbar mentalmente. Imaginei a garçonete de lingerie, me chamando com sua boca vermelha de batom. Ela chupava meu pau, todo grosso e duro, depois eu a virava de costas para mim, ela se apoiava no balcão, meu pau penetrava fundo, iria rasga-la... Assim surgem as grandes histórias.

Minhas doses chegaram, virei ao rum primeiro, gosto de saborear uísque de qualidade. Eu trocava os copos, bebia o cappuccino e o uísque aos poucos. Ambos estavam excelentes.

Troquei olhares e sorrisos com a garçonete. Ela deixou seu nome, telefone e endereço escritos em um guardanapo: Daniela – 88194750, Rua Coronel Rodriguez Paiva. Continuei bebendo os dois copos, enquanto isso ia escrevendo as minhas fantasias com Daniela.

Entrou um cara, jovem, pele branca e bochechas rosadas. Olhos castanhos, nariz fino, lábios pálidos. Cabelo também castanho, corpo magro. Usava roupas velhas, camisa preta já desbotada, calça jeans surrada e tênis all-star preto, bem gasto, aparentemente.

Ele passou por mim, olho diretamente em meus olhos, tinha uma expressão muito triste no rosto. Não sei como explicar, eu me senti deprimido naquele momento.

Virei o uísque. Um corpo caiu ao meu lado, era o magrelo de rosto pálido e triste. Ele se contorcia no chão, babava, sua boca estava espumando muito. As pessoas ficaram paralisadas, assim como eu. Não era como o acidente de carro, eu estava diante de um surto da realidade.

Meus olhos estavam voltados para seu rosto, eu encarava diretamente a morte. Tudo ficou escuro. Meu corpo estava congelando, uma voz ao fundo dizia “Pobres são aqueles que desfrutam da vida com um peso, a dor, dentro de si. Carregam a culpa de toda a sujeira que há ao seu redor. Cuidado, não vá se perder de seu caminho. A realidade te confunde, lute contra seu medo, lute contra seu medo, lute contra seu medo...”.

Um tapa forte no meu rosto, acordei.

- Ei cara! Acorde! Um já se foi, não quero mais um defunto no meu estabelecimento.

Levantei ainda atordoado e com uma dor na nuca, olhei para Daniela e disse:

- Dani, me traga outra dose. Depressa.

Paguei minha conta e dei o fora de lá.

Horas mas tarde, estaria eu bêbado. Com certeza eu ligaria para Daniela...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pura Poesia

Minha cabeça parecia que ia estourar, minha boca estava seca, eu precisava de uma cerveja. Tinha virado a noite no bar, já era dia.

- Sol de merda... – Resmunguei enquanto subia cambaleando as escadas.

A porta estava meio aberta. Meu sangue subiu imediatamente, de bêbado equilibrista fui para valente destemido, um guerreiro em defesa de seu território.

Fechei os punhos, olhei ao redor em busca de algum tipo de arma, nada. Seria assim, homem à homem, puro instinto animal. Encostei o rosto na porta e olhei pela fresta aberta. Não podia acreditar no que estava acontecendo. Pensei que estava bêbado demais, que eu devia ter caído da escada e estava desmaiado sonhando com aquela cena.

Abri a porta com extrema cautela. Entrei sem fazer barulho e fechei a porta. O quarto estava pegando fogo, o calor era intenso. Meu coração disparou de repente.

Ela estava praticamente deitada em minha poltrona de frente para minha máquina de escrever. Esfregava meus poemas escritos em uma folha de papel branca em seu corpo suado. Fazia uns barulhinhos, controlava seus gemidos.

Era lindo! Era perverso! Era excitante! Aquela mulher totalmente desconhecida, porém, extremamente natural com minha arte contribuindo com seu prazer. Cabelos negros, lisos, boca rosada e fina. Seios apalpáveis, coxas grosas e aquela xoxota molhadinha... Pura poesia.

Hesitei em me aproximar, ainda estava em choque, imaginando ser um sonho, afinal é essa a realização de todo escritor, mais fui para perto dela. Não tive tempo para piscar, ela abriu minha calça com a velocidade de uma onça. Abocanhou meu pau com vontade. Olhava fixo para mim, queria ver a minha reação, a expressão em meu rosto.

Ela chupava ele inteiro, depois só a cabeça e brincava usando sua língua. Nunca tinha recebido um boquete como aquele. Não conseguia pensar em mais nada, não me importava o quão inacreditável era aquilo, uma total estranha entra em minha casa, se masturba com meus poemas e agora engole todo o meu pau?! Estava prestes a gozar, meu corpo estava mole, eu iria cair sobre a mesa.

Em segundos todo aquele êxtase de prazer se foi. A maldita o tirou da boca, duro e limpou os lábios.

- Você escreveu estes poemas para uma só mulher?

- Olha aqui, que porra é essa de entrar na minha casa, ler meus poemas, brincar com eles e não me deixar gozar?

Nenhuma mulher tem o direito de interromper um orgasmo...

- Você é muito grosso! Me responde, pra quem você escreveu tudo isso?

- Desgraçada... Sim! Eu escrevi para uma mulher, em geral, todos são pra ela.

- Mais que coisa linda!

- É, pode ser... Afinal, como você veio parar aqui?

- Você é meio rabugento. Sou uma fã sua, leio seus textos há um bom tempo. Descobri seu endereço depois de uma apresentação sua em um teatro lá no centro.

- Você me seguiu até aqui? Rabugento é o caralho!

- As coisas detestáveis que você pensa que quer dizer, o tempo irá torná-las piadas. No fundo, seu coração é de um bom homem, tenho certeza disso.

- Ao menos alguém tem.

Me virei e fui pegar uma cerveja na geladeira. Tomei um longo gole, matava a minha sede, era tão bom. Senti sua mão descendo do meu peito até agarrar novamente meu pinto.

Segurei com força seus braços e a joguei na cama, ela caiu de costas. Era a minha vez, iria mostrar para ela o que sentia quando escrevia um poema. Apertava suas longas e firmes pernas brancas, brincava com sua xota, sentia seu clitóris na ponta da minha língua. Era o gosto do paraíso. Ela não se controlou, deixou acontecer. Gemia forte, seus olhos estavam firmemente fechados, suas mãos apertavam meus braços... Orgasmos múltiplos!

Fui pra cima dela. Sua boca estava aberta e molhada, era uma delícia beija-la. Ficamos nos beijando e acariciando nossos corpos suados por um tempo. Eu estava com o pau duríssimo. Entrei nela. Cavalgava aquela mulher magnifica, aperava sua coxa e penetrava. Ela estava enlouquecendo comigo. Me abraçou forte, gemia mais e mais alto, apertou minha nuca, puxava meu cabelo, fincava a unha no meu braço. Nós gozamos juntos.

A lua entrava pela janela, quanto tempo tinha se passado? Novamente você estava lá. Era poesia pura...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Pensamento Vago

Uma grande nuvem negra tomava a cidade está manhã, chovia forte. Acordei com os trovões rachando os prédios ao meio. Não conseguia mais dormir, nem poderia. Senta meu peito pesado, pura mágoa.

Você conhece a sensação de ver o amor da sua vida virando as costas pra você e indo com outro pra casa? Dando seu coração para o outro... A sensação do seu companheiro de equipe se aliando a seu inimigo, um grande, gordo e estúpido cara sem a mínima noção cultural, literal e musical.

Você tem seu corpo rasgado, aberto e suas tripas arrancadas. Tirando tudo: coração, pulmões, fígado, rins... Até mesmo suas lágrimas! Uma pessoa sem lágrimas é uma pessoa incapaz de demonstrar seus sentimentos. Nelas guardamos alegria, tristeza, dor, angústia, felicidade, amor.

É difícil pensar com o mundo desmoronando lá fora, na verdade, é quase impossível fazer qualquer coisa. Seu mundo cai junto...

A bebida tem outro gosto, ou eu estou louco? A vida tem outro gosto? Eu tenho? Mais que porra de pensamento é esse! De onde eu tiro isso, essa maldita dor que vem e vai quando bem entende. De quem é a culpa? Tem um culpado? Porra! De novo com isso?

Nunca serei o mesmo, com ou sem você. Meu sofrimento nunca será o mesmo, ele se fortaleceu, assim como eu. Para onde seus olhos estão mirados? Você continua a mesma na manhã seguinte, somos incapazes de mudar. Merda! Não me fortaleci o suficiente.

O álcool e uma dadiva, ele não te trai. Caso o faça, você ao menos saberá o motivo quando estiver jogado no chão com a cabeça enfiada num balde cheio de vômito.

Merda!

O sol refletia na janela e rachava a minha cabeça. Era uma quarta-feira, 5 horas da tarde e faziam 30 graus. Eu estava puto, não conseguia escrever, dormir, me masturbar, ouvir música... Nada! Pra piorar, minha geladeira pifou, então eu tive que tomar as cervejas, a maioria quente e comer tudo não estragar nada.

“Dia de merda! Sol de merda! Geladeira de merda! Merda, merda, merda...”.

Quem foi o filho da puta que fez o sol tão quente? Essa merda podia explodir, poderia ser sempre noite. A lua é tão linda, pode-se aprecia-la, ama-la. Já essa bola flamejante de merda, é exatamente o oposto. Você nem consegue olhar em sua direção, sem fritar seus olhos.

Fiquei ainda mais puto enquanto pensava, então eu decidi sair. Peguei minhas chaves e sai. Queimando o pneu no asfalto, dirigia eu sem direção.

Rodei por uns 20 minutos e parei num bar, sem saber muito bem onde eu estava. Pedi uma cerveja. Fui mal atendido, cercado de olhares atravessados, estava suando e estressado. Mas ganhei minha cerveja, gelada.

Bicava o copo e notei que uns caras na mesa ao meu lado gritavam histéricos por causa de algo que passava na TV. Era um jogo de tênis, eles apostavam pelo vencedor de cada set. Três caras apostaram. Pedi outra cerveja, acendi um cigarro e entre a fumaça exclamei:

- Eu quero 20 no cabeludo de canelas finas!

Olharam-me toro. Os três foram contra a minha escolha. 45 – 15, venci.

Seguiu assim por mais três sets. Praticamente me expulsaram do bar e não levei nada do que eu, aparentemente, havia ganhado. Na verdade, perdi 15 reais em cerveja.

Onde eu estava? Não devia sair de casa. Estou acostumado com a solidão, ficar sempre confinado no conforto da minha jaula. Que saudade da minha poltrona.

Encontrei outro bar, ainda estava perdido. Passei tanto tempo preso a máquina de escrever que não conhecia minha cidade? Parei o carro e fui em busca de mais cervejas e olhares carregados de ódio e hostilidade.

Bati a mão no balcão e pedi uma cerveja, com agressividade. Ninguém me olhou torto, mas sim espantados. Trouxeram a cerveja, morna.

Estava escuro e o clima tinha mudado repentinamente. Ventava forte, uma tempestade se aproximava. Fiquei por quase 25 minutos lá, tomei quatro cervejas e três doses de pinga, do barril.

Bêbado, dirigia sem a menor noção de localização. Parei no semáforo, achei meu cantil, Charles, no porta-luvas. “Que diabo você fazia no porta-luvas, Charles? Vejam só... Esta cheio! Uísque!”.

Acordei com a água da chuva caindo em meu rosto. Olhei ao redor, eu estava caído ao lado da minha cama, a janela estava aberta sob minha cabeça.

Charles estava em minha cama, vazio. Garrafas, novas, jogadas no chão, com a chave do meu carro. E na minha cabeça, um grande branco.

“Merda! Por que eu que eu tenho de dormir no chão...”.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

De Quatro

Era sábado, já passava das 23 horas da noite, eu estava de saco cheio de passar toda noite bêbado em casa ou no bar que fica embaixo do meu pequeno apartamento. Como eu finalmente consegui pagar todas as multas e tirar meu carro do DETRAN, então eu decidi sair à procura de um novo bar.

Fazia dois meses que eu não trepava, estava de cabeça cheia e precisava aliviar. Estava excitado e, obviamente, chapado.

Liguei o carro e sai em direção aos bares da cidade. Parei em um bar chamado Fênix. Estava lotado, pessoas de todos os tipos: adolescentes bêbadas, homens querendo impressionar qualquer vadia. Mulheres loiras, morenas, duas ruivas, uma oriental e uma mulata.

Sentei no balcão e pedi rum com coca. Sentada ao meu lado estava a mulher mais linda que eu tinha visto nos últimos três meses. Ela era branca, com a pele rosada, olhos castanhos, assim como o cabelo, com ondulações nas pontas. Seus lábios eram finos, bem rosadinhos. Algumas pintinhas nas suas bochechas e pronto, era este o rosto mais lindo do local.

- Que tal uma bebida? É por minha conta.

- Não obrigada – Ela respondeu. Já estou com um copo cheio.

- Hm, tá legal! Então por que você não me paga um drink?

- É uma pena, você também está com o copo cheio.

- Não tem problema... – Virei meu copo. Uma delicia!

Ela me lançou um olhar. Êxito por poucos segundos e então pediu outro drink para mim, rum com coca, duas pedras de gelo.

Surpreendi-me quando ela iniciou uma conversa inesperada comigo:

- Você bebe bem.

- Eu sinto muita dor...

- O que você faz da vida?

- Eu bebo.

- Não, eu perguntei sobre a sua profissão.

- Sou alcóolatra profissional.

- Parece uma boa profissão... Sou jornalista, trabalho para a Folha de São Paulo. Escrevo sobre entretenimento, cultura, essas coisas.

Eu podia imagina-la sentada em sua cadeira vermelha, em seu escritório relativamente pequeno. Seus seios volumosos apertados contra sua camisa branca e sutiã de renda preto. Com os óculos caídos até a ponta do nariz, dois fios de cabelo da franja em frente ao seu olho direito. Enquanto ela escrevia sobre certo festival de música clássica... Fiquei de pau duro!

- Meu nome é Camila, e o seu?

- Leonard.

- Leonard? Já ouvi falar sobre algum Leonard... Não me lembro muito bem.

- Não é um nome muito comum.

Bebemos e conversamos, escutei na maior parte do tempo enquanto observava seus lindos lábios se mexerem, durante a noite toda. Quando eram 3 horas da manhã, decidimos sair.

Fomos para minha casa. Entramos, e por sorte, eu tinha ajeitado as coisas antes. Não havia tantas garrafas no chão, a cama estava limpa, o banheiro estava limpo. Apenas minha escrivaninha estava bagunçada, cheia de rabiscos, poemas e um conto ainda por acabar.

- Você escreve bastante para um alcóolatra.

- Escrevo proporcionalmente ao que bebo. E com a mesma qualidade.

- Leonard... Cocain? Você é Leonard Cocain! Já escrevi um artigo sobre um de seus livros.

- Não me lembro disso.

- Pois é, era um livro chamado “Escrevendo um Romance”. Adorei ele!

- Obrigado, agora, vamos beber.

Bebemos mais três copos de vinho, cada um. Então, encostados na janela apreciando a lua, puxei-a para mim e a beijei com vontade. Eu estava bêbado e excitado, outra vez.

Trouxe-a para mais perto, suas pernas se encaixaram na minha cintura e eu levantei-a, sem parar de beija-la. Caímos na cama, ela estava de vestido. Tirei sua calcinha e enfiei-me debaixo daquele manto de seda.

Sua respiração aumentava, assim como as batidas de seu coração. Podia sentir sua excitação na ponta da minha língua. Ela gemia para si.

- ÚÚÚÚÚÚ!

Tirei seu vestido, me impressionei quando vi que ela estava sem sutiã. Deitei sobre aquele corpo magnifico, coxas duras, seios perfeitamente proporcionais à palma das minhas mãos, e que rabo!

Entrei nela. Enfiava devagar no inicio, depois com mais força. Mordia seu pescoço e esfregava minha barba no canto do seu rosto. Sua pele era macia e lisa. Ela mordia os lábios e forçava os olhos. Estávamos embriagados de tesão.

Ficamos naquilo por quase duas horas sem parar. Decidi que a faria gozar, bem ali, com a lua já indo embora junto de nossas forças. Coloquei-a de quatro, afundei seu rosto contra o travesseiro e com minha mão esquerda, peguei aquele pedaço de carne grosso, cabeçudo e vermelho. Esfreguei-o naquela xoxota molhada e apertada, enfiei. Ia com toda vontade, segurei sua cintura com as duas mãos e fui com força. Ela gemia, iriamos gozar, juntos. Mais uma, duas, três, quatro... Quinze bombadas e gozamos.

Estávamos exaustos, rolamos juntos na cama. Ela me abraçou, dei-lhe um beijo, dormimos agarrados. Por fim, meu pau me agradeceu por aquela noite.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Saudade

Eu queria apenas que a noite acabasse logo, que o sol surgisse com o seu raio da manhã. Não me sentia bem enquanto bebia, enquanto fumava, muito menos escrevendo. Nada saia de mim, era como se estivesse preso em minha garganta, um grito de socorro que não poderia ser dito, de maneira alguma. Algo em segurava.

Sentia-me tão triste e sozinho, não sei explicar. Como sempre, não conseguia dormir e ainda estava com uma dor desgraçada nas costas, de tanto me curvar para escrever durante as ultimas três noites. Escrevi quatro poemas de amor, um conto sobre um vendedor de rosas desiludido após perder sua família em um incêndio desastroso e rascunhei algo sobre uma linda mulher que vivia entre rochedos na praia.

Pensei em tentar algo diferente, larguei tudo, peguei minha jaqueta surrada, meus cigarros e meu velho cantil, Charles. Sai para uma volta na rua fria e escura, eram 4 da manhã.

Descia a ladeira onde geralmente ficavam algumas prostitutas e uns traficantes de pequeno porte, mas com aquele frio, não havia ninguém. Fumava para tentar me aquecer e bebia uísque. De certa forma, deu pra aliviar-me do frio, mas não de todos os problemas que rondavam a minha cabeça naquela noite.

De uma hora pra outra, começou a ventar forte, levantando alguns dos meus fios de cabelo. Olhava ao meu redor, desatento, com a cabeça em algo que estava tão longe naquele instante que quase não notei o cachorro que me seguia. Um vira-lata de cor cinza e manchas pretas nas costas, seus olhos bobos e molhados, com um sorriso bobo e sua língua rosada boba... Cachorro engraçado aquele!

Andei por toda a região, até avistar logo a minha frente um parque. As folhas das arvores que rodeavam as grades do lugar, estavam caindo pro lado da calçada, onde eu estava. Encostei logo abaixo de um coqueiro, ou algo assim.

Olhei para o céu negro enquanto tomava mais um longo gole. O céu estava perfeito! A lua ainda brilhava forte, acompanhada de uma única estrela, ainda mais bonita que a própria lua. Aquilo me era familiar, nunca poderei me esquecer, daquela noite.

Abaixei meus olhos, que cheios de lágrimas, observavam aquele pequeno circulo de prata brilhante em minhas mãos geladas. Neste momento a resposta veio como uma bala em minha mente:

“Por que você esta tão longe neste momento? Eu sinto tanto a sua falta...”

Meu coração estava gelado e triste, louco por ela. Louco de saudades dela. Queria poder abraçá-la e nunca mais solta-la. Trocar meu velho e pequeno apartamento por uma grande casa no campo, com cavalos e cachorros correndo para todos os lados. Nossos filhos brincando e sorrindo ao nosso redor, enquanto nós nos abraçávamos e nos beijávamos felizes, como nunca.

Sonhos... Malditos sonhos! A vida pode ser cruel com aqueles que não souberem como lidar com a pressão que lhes é exercida. Se não estivermos preparados, estaremos mortos, e sozinhos. A morte já não me parece tão ruim...

sábado, 10 de setembro de 2011

Ao Inferno

Passeios últimos três dias enfiado dentro de casa a base deum grande estoque de bebidas alcoólicas, cachaça velha, vodca e conhaque, sem contar meu cigarro.

Não sei ao certo, mas acredito que era uma quarta-feira, depois de uma longa noite banhada a muitas doses de cachaça e conhaque, acordei abraçado a minha velha maquina de escrever, que herdará de meu avô.

Estava eu no processo de finalização de um trabalho, um livro. O enredo era sobre um poeta renomado, porem em decadência, a procura de uma razão para seguir em frente. Ele procura dentro de incontáveis garrafas de rum e dentro de varias mulheres, em todos os sentidos. O pobre, e solitário, poeta atravessa uma grande depressão, enlouquece como parnasianismo, apaixona-se pelo romantismo e vive o realismo. Suicídio é algo constate em seus pensamentos. E no fim... Bom, ainda não cheguei lá.

Levantei-me, fui ao banheiro para descarregar e lavar meu rosto. Quando me deparei com a minha imagem no espelho sujo e quebrado, vi meus olhos completamente vermelhos, minha barba tinha o comprimento de quatro dedos.

Lavei meu rosto, escovei meus dentes amarelos, aliviei-me na privada verde musgo e voltei para a máquina. No momento em que eu me direcionava para a escrivaninha, notei que eu não sentia as minhas pernas, meus braços, minha cabeça... Não sentia nada! Estava eu sonhando? Provavelmente era o efeito do álcool consumido durante a noite.

Acendi um cigarro, dei uma rápida lida nas últimas páginas que eu havia escrito. Tirei da gaveta da escrivaninha, debaixo de alguns rascunhos, um de meus livros prediletos - O Livro de Praga: Narrativas de Amor e Arte, de Sérgio Sant’Anna. Passei a mão na capa, gostava muito dela, e o abri: “Mantenha-me em sua memória, deixe de fora todo o resto.”. Li a dedicatória, então, um sorriso, um breve momento de lucidez e paixão surgiram de maneira natural.

Coloquei o livro de volta na gaveta enquanto terminava meu cigarro. Apoiando-me em meu braço, recostado na cadeira e brincando com os pelos do meu rosto, entrei novamente em transe.

Era como se tudo estivesse em câmera lenta e em preto e branco. A cada piscada dos meus olhos, o meu estado, de sonho e alucinação, apenas aumentava.

Fechei meus olhos, podia sentir o vento em meus cabelos, meu corpo balançava conforme a ventania aumentava sua força. Quando abri os olhos, eu estava no topo de um edifício. De repente silenciou-se a escuridão do momento, assim, pulei... Não sentia mais o vento, apenas um enorme frio no estômago. Via-me caindo cada vez mais rápido na direção do chão, meu estômago congelava, minha garganta formigava e então, quando iria chegar ao fim da linha, abri os olhos novamente.

Enquanto retomava a consciência, suando como um porco, tremendo e com calafrios, notei que eu estava jogado no chão do meu pequeno quarto. Sem saber como fui parar lá, me levantei. Tomei o que sobrou do conhaque que estava no copo ao lado da cama e em seguida deitei.

Olhava assustado para o teto. Sentia algo gelado pressionado contra a minha cabeça, enquanto o suor escorria pelo lado esquerdo do meu rosto.

Quando dei por mim, eu estava segurando uma pistola, com ela apontada para minha cabeça. Não entendia o que estava acontecendo, escutava uma voz feminina, muito familiar ao fundo gritando. A voz me chamava, dizia que não valeria a pena e que me amava. Eu sabia de quem era aquela voz... Minha mão suava, meus olhos lacrimejavam e eu dizia que não o faria, mas nada que eu realmente fizesse poderia impedir o que estava para acontecer.

A bala perfurou meu crânio, atravessando a minha cabeça e, ao contrário do que muitos dizem, você sente tudo aquilo, toda aquela dor, devagar, sofrendo... Veio como um trem, não conseguia respirar, tremia e suava novamente. Acordei daquele sonho, ou algo assim.

Era como se alguém estivesse ao meu lado, de pé, me olhando sofrer e morrer por dentro. Talvez fosse o maldito Diabo outra vez.

Permaneci paralisado por alguns instantes. Então me levantei, esfreguei o suor na minha testa e sentei em frente à máquina. Servi-me de um copo de conhaque e o mandei direto para meu fígado. Outra dose, virei o copo.

Tentava entender qual o significado, se é que havia algum sentido para o que aconteceu. Ao mesmo tempo, eu tentava simplesmente esquecer e voltar a dormir, ou elo menos finalizar meu trabalho.

Pensava, pensava, pensava... FODA-SE! Não quero saber se era o Diabo vindo buscar minha maldita alma ou quem quer que seja atrás dela. Eu tenho muitas garrafas pra beber e um livro pra escrever, coisas mais importantes do que pensar nos meus demônios assombrando novamente meus sonhos, ao inferno com eles! Ao inferno com vocês todos! Ao inferno!

terça-feira, 19 de julho de 2011

O brilho de uma noite cheia de luz

Enquanto atravessava mais uma madrugada vazia, solitário, desfrutando de uma boa garrafa de conhaque comecei a refletir sobre infinitos assuntos, sobre qualquer coisa que me viesse à cabeça. Pensava na razão pela qual estava sozinho, nas mudanças da lei que definia a pena daquele que fosse pego em flagrante cometendo algum tipo de crime, na bolsa de valores, nos filhos que nunca tive... Mas o que realmente me fez, não pensar apenas num vago momento, mas sim refletir, discutir o assunto durante horas. Foi a própria noite.

Eu caminhei até a janela carregando a garrafa de conhaque em uma das mãos. Olhei bem através dela, tudo que via era, ao contrario do que muitos descrevem ao serem questionados por tal assunto, eu via a rua, alguns carros estacionados, lixos nas calçadas, vagabundos passando e gritando a plenos pulmões. Era uma imensidão de luz, postes acesos durante toda a noite, não se via estrelas no céu, a lua quase não brilhava devido a tanta luz que ofuscava sua energia natural.

Questionava aquilo, realmente martelava a questão em minha cabeça. Como era possível... A noite toda? Mas ainda havia mais. Não tive espanto maior do que quando, em meio a toda aquela investigação pelo motivo que haviam acabado com a definição da frase “E na imensa escuridão daquela noite...”, olhei mais adiante. Era incrível! Luzes espalhadas pelo horizonte. Apenas pequenas bolinhas brilhantes que piscavam e transmitiam uma sensação nova, como se estivesse olhando para pequenos diamantes.

Não sabia ao certo por que me impressionavam tanto aquelas luzes, afinal eram apenas postes de luz, que como os que eu acabara de desprezar por destruir minhas noites sombrias. Talvez fosse a minha embriaguez ou apenas a loucura que havia dominado a minha cabeça após me tornar novamente só. Eu realmente não sei. Mas me sentia bem e ao mesmo tempo distante de algo, distante de alguém enquanto as olhava.

Direcionei meu olhar para a cima, para a lua, que mesmo sendo ofuscada pela luz da “cidade que nunca dorme”, ela ainda mantinha a sua soberania. Dessa vez eu sabia o motivo pelo qual estava observando e ao mesmo tempo sentindo um enorme frio no estômago. Lembrei-me de uma promessa que fiz: Sempre que você olhar para a lua, lembre-se de nós dois, pois eu farei o mesmo. Nunca deixei de olhar para ela com um sorriso no rosto, lágrimas nos olhos e um enorme vazio dentro de mim, como se tivesse perdido uma grande e importante parte de mim.

Afastei-me da janela, era difícil aguentar tudo aquilo, tomei uma grande golada de conhaque e sentei no chão. Sentia-me abatido, doía demais. Era tanto sofrimento de uma hora para outra.

Terminei a garrafa imediatamente. Cai de costas. Sentia que tudo ao meu redor girava cada vez mais rápido. Ao poucos foi parando, e então não sentia nada. Não sentia o chão, não sentia meus braços, não sentia mais dor. Havia desmaiado.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Escrevendo um Romance

Após tomar uma caneca de café bem forte, sentei diante de minha máquina de escrever, afinal eram 4 da manhã, ou seja, hora de trabalhar. Acendi um cigarro como de costume, maldito câncer, vicio maravilhoso. Ajeitei a folha branca na máquina, puxei o cinzeiro para perto e coloquei o cigarro aceso nele.

Tentava ajeitar meus pensamentos, traçando uma linha de raciocínio por eles e assim, escrever outra carta de pura raiva e ódio voltada para a sociedade e, consequentemente, a raça humana. Coisas comuns para um homem bêbado cuja eficácia é escrever.

Porém, inexplicavelmente não conseguia me concentrar em um único pensamento. Me inclinar para trás na cadeira e respirar profundamente, o café ou o cigarro, nada me fazia relaxar e manter o foco em uma única ideia. Sentia o inferno dentro da minha própria mente.

Comecei a ficar impaciente, então me levantei e comecei a andar em círculos pelo minúsculo quarto esbravejando gentilezas para todos os móveis em que esbarrava. De repente parei, observei uma das diversas manchas no carpete bege. Me veio então um impulso. Escrevi tudo o que me vinha à mente naquele instante, organizei os papéis bem bagunçados por todo o chão e me deitei. Levei as mãos a cabeça, fechei os olhos e estava pronto. Podia sentir cada pedaço de papel espalhado pelo chão, via-os todos em minha mente, eram meus pensamentos organizados numa bagunça com papéis.

Me sentia bem comigo outra vez, organizei os pensamentos todos. Um romance acabara de ser criado a partir daquilo. Era uma histoória de amor entre uma renomada advogada e um escritor bebum que havia sido preso por causar transtorno numa igreja e por estar dormido numa praça pública próxima a uma escola primária, fedendo a cachaça e vômito. Apenas outro romance clichê mostrando que os opostos nem sempre são tão “opostos” assim. Por fim, me levantei e transformei o texto pensado em um conto de 18 folhas.

Enfiei as 18 folhas em um envelope que deveria mandar logo pela manhã aos editores da revista que havia me contratado naquela semana para fazer exatamente isso, um romance curto entre duas pessoas distintas e com certas diferenças.

Recolhi as folhas espalhadas no chão uma a uma. Coloquei-as sobre a mesa, acendi um cigarro e me servi uma bela dose de whisky para comemorar o trabalho bem feito. Enquanto dava uma tragada profunda sem prestar muita atenção, desviei o olhar da ponta do cigarro para o monte de folhas sob a mesa. E a primeira delas estava escrito algo que não me lembrava de ter escrito, mas que sabia o que o porquê tinha escrito.

Estava escrito naquela folha o primeiro conto que escrevi desde que decidi me tornar escritor. E com carinho, decidi guarda-la em minha gaveta, junto a outros objetos de grande valor sentimental e que me trazem ótimas lembranças.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O sopro gelado da alma

Nada como outra noite no bar, lotado, enchendo-me de uísque com gelo para enfrentar o forte frio que fazia, após a meia noite. Vários rostos desconhecidos, como de costume, e alguns poucos amigos, se é que poderia chamá-los assim.

Sentia-me bastante deprimido e, apesar de ter “meus amigos” comigo, sentia-me solitário. Assim, doses e doses de uísque se foram em minutos.

Usava uma jaqueta uma jaqueta surrada sobre uma camisa xadrez velha. Não havia dormido na noite anterior, com isso, o cansaço que sentia era enorme. Conforme passava o tempo e as doses que tomava, só faziam esse cansaço aumentar.

Pensava como queria estar em outro lugar, longe dali. Pensava que todas aquelas pessoas seriam facilmente trocadas em instantes por uma única pessoa, por um único olhar angelical.

Levantei-me e fui até o canto aberto do bar. Acendi um cigarro, sem distanciar-me do pensamento anterior. E entre minhas tragadas (?), uma jovem de boa aparência, cabelo loiro, pele branca e bochechas rosadas veio até mim e questionou-me:

- Me desculpe, mas é você não é? Você é aquele escritor triste. Foi você quem escreveu “A mulher do outro lado do balcão”!

Apenas olhei-a e voltei meus olhos para meu cigarro que espalhava sua fumaça mortífera ao meu redor.

Novamente ele dirigiu-me a palavra:

- Eu realmente gosto do que você escreve. Li todos os seus poemas e seus contos. Você é a nova voz de uma juventude quase perdida – Um sorriso espantosamente branco.

Aquelas palavras. Era aquilo, a consagração do poeta bebum.

Não sabia o que responder, então, eu apenas agradeci e retirei-me do bar.

Eram 4 horas da manhã, eu caminhava pela escuridão da noite enfrentando o forte frio a caminho de casa. Acendi um cigarro, lembrei-me da solidão e pronto, eu estava novamente só... O pobre poeta bebum apaixonado.