terça-feira, 20 de setembro de 2011

Saudade

Eu queria apenas que a noite acabasse logo, que o sol surgisse com o seu raio da manhã. Não me sentia bem enquanto bebia, enquanto fumava, muito menos escrevendo. Nada saia de mim, era como se estivesse preso em minha garganta, um grito de socorro que não poderia ser dito, de maneira alguma. Algo em segurava.

Sentia-me tão triste e sozinho, não sei explicar. Como sempre, não conseguia dormir e ainda estava com uma dor desgraçada nas costas, de tanto me curvar para escrever durante as ultimas três noites. Escrevi quatro poemas de amor, um conto sobre um vendedor de rosas desiludido após perder sua família em um incêndio desastroso e rascunhei algo sobre uma linda mulher que vivia entre rochedos na praia.

Pensei em tentar algo diferente, larguei tudo, peguei minha jaqueta surrada, meus cigarros e meu velho cantil, Charles. Sai para uma volta na rua fria e escura, eram 4 da manhã.

Descia a ladeira onde geralmente ficavam algumas prostitutas e uns traficantes de pequeno porte, mas com aquele frio, não havia ninguém. Fumava para tentar me aquecer e bebia uísque. De certa forma, deu pra aliviar-me do frio, mas não de todos os problemas que rondavam a minha cabeça naquela noite.

De uma hora pra outra, começou a ventar forte, levantando alguns dos meus fios de cabelo. Olhava ao meu redor, desatento, com a cabeça em algo que estava tão longe naquele instante que quase não notei o cachorro que me seguia. Um vira-lata de cor cinza e manchas pretas nas costas, seus olhos bobos e molhados, com um sorriso bobo e sua língua rosada boba... Cachorro engraçado aquele!

Andei por toda a região, até avistar logo a minha frente um parque. As folhas das arvores que rodeavam as grades do lugar, estavam caindo pro lado da calçada, onde eu estava. Encostei logo abaixo de um coqueiro, ou algo assim.

Olhei para o céu negro enquanto tomava mais um longo gole. O céu estava perfeito! A lua ainda brilhava forte, acompanhada de uma única estrela, ainda mais bonita que a própria lua. Aquilo me era familiar, nunca poderei me esquecer, daquela noite.

Abaixei meus olhos, que cheios de lágrimas, observavam aquele pequeno circulo de prata brilhante em minhas mãos geladas. Neste momento a resposta veio como uma bala em minha mente:

“Por que você esta tão longe neste momento? Eu sinto tanto a sua falta...”

Meu coração estava gelado e triste, louco por ela. Louco de saudades dela. Queria poder abraçá-la e nunca mais solta-la. Trocar meu velho e pequeno apartamento por uma grande casa no campo, com cavalos e cachorros correndo para todos os lados. Nossos filhos brincando e sorrindo ao nosso redor, enquanto nós nos abraçávamos e nos beijávamos felizes, como nunca.

Sonhos... Malditos sonhos! A vida pode ser cruel com aqueles que não souberem como lidar com a pressão que lhes é exercida. Se não estivermos preparados, estaremos mortos, e sozinhos. A morte já não me parece tão ruim...

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