quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Quando um perturbado bate na porta

Sai do banho, ainda estava de ressaca, mas aquela altura eu já me sentia acostumado com aquele estado. Morfina arrumou uma linda mesa para tomarmos café, apesar de serem três horas da tarde. O sol refletia seus lindos olhos claros.

- E então, como se sente?
- Ainda confuso... O que aconteceu ontem? Como vim parar aqui?

Ela me passava uma tranquilidade estranha e sorria enquanto me indicava onde sentar.

- Quando me contaram que você tinha saído do hospital e assustado o psicólogo, eu sabia que te encontraria, ainda mais por que já tinha visto aquela velha padaria enfestada de bebuns.

Me serviu uma grande caneca de café. Divino café, o melhor remédio para ressaca, estresse ou qualquer merda que te cutuque a consciência.

- Não foi difícil te convencer a ir embora quando meu turno acabou e fui te procurar por lá. Na verdade, fiquei espantada com a facilidade.
- Por quê?
- Eu não sei explicar... Você não dizia coisa com coisa, ficava dizendo que era um pirata e que queria “invadir o meu barco para me saquear”.
- É eu sou um charme quando bebo. – Me senti um pouco envergonhado.
- Há há, achei engraçado. Bom, então eu te trouxe até aqui, não seria fácil te levar para sua casa. Entramos, conversamos e você encontrou uma garrafa de champanhe na cozinha. Bebemos a garrafa inteira, entrei no banheiro para lavar meu rosto e quando voltei você tinha sumido. Fui te encontrar caído ao lado da cama.
- Por isso meu rosto está inchado?
- Sim. Nós rimos muito disso. Depois disso você subiu na cama e me convidou, na verdade me agarrou.
- Novamente, um charme quando bebo.

Ela sorria com malicia.

- Você estava completamente bêbado, foi impressionante como conseguiu fazer tudo aquilo.
- Tudo aquilo?
- Sim, aquilo. – Seu olhar era sincero e especifico. – Falando nisso, eu estou com marcas por toda a perna, você não deu descanso para elas!
- Eu gosto de pernas... – Olhava para suas pernas como um tigre observa sua preza.

Ela não tentava de maneira alguma esconder seu magnifico tesouro, na verdade, mostrava ainda mais. Minha vontade era ataca-la, fazer tudo aquilo que fizemos durante a noite de novo, mas dessa vez eu teria consciência e lembraria cada detalhe na manhã seguinte.

- Meu querido, eu tenho de ir trabalhar, por que não guarde suas forças para mais tarde?

Balancei a cabeça e voltei para a realidade.

- Sim, é claro.
- Vou me trocar para ir, voltarei lá pelas 23 horas. Fique inteiro, há uma chave extra atrás da porta. Qualquer coisa que precisar, meu telefone estará anotado naquele caderno ao lado do sofá.

Não ouvi uma palavra do que disse, voltei para as pernas.

Enquanto uns trabalham, eu bebo. Fui sai do prédio onde morava Morfina em busca de um lugar para repor as energias. Encontrei apenas uma padaria, como não tinha recordações da ultima “visita” a uma padaria, achei melhor continuar andando. Fumava meu cigarro e pensava em um poema:

“Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.”

Arthur Rimbaud, um gênio, um alucinado, um grande poeta.

Encontrei um bar poucas ruas a baixo, parecia muito movimentado para aquela hora, entrei. Minhas expectativas foram correspondidas, o lugar estava cheio. Sentei de frente para o balcão, assim ficaria mais fácil pegar meus drinks e não teria de encarar os desconhecidos ao redor.

- Rum com coca, muito rum, pouca coca.
- É pra já!

Mandou meu drink, como pedido, muito rum.

- Excelente! Obrigado Jack, está ótimo.
- Meu nome é Marcos Antônio.
- Vou te dizer uma coisa Jack, dos drinks que eu já tomei essa semana, até onde eu lembro, o seu só perde para a dose de Morfina que eu tenho lá em casa.
- Sempre tentando satisfazer os clientes.
- Grande Jack! Traga uma dose de Jack Daniel’s depois desse, Jack.
-Boa escolha.
- Faça duas. – Uma voz diferente.

Olhei para o sujeito com o canto do olho. Era um boa pinta mal encarado, algumas tatuagens no braço, as pontas do cabelo chegavam a encostar nos ombros e a barba para fazer. Retribuiu o olhar, mas ele não tentou disfarçar, me encarou com hostilidade. Voltei para meu drink, virei.

Na TV passava o “jogo das estrelas”, alguns ex-jogadores, apresentadores, jogadores centro da mídia e tudo por uma “boa causa”. Não me importava a razão, quando tenho a chance, é um dos meus passa tempos favoritos simplesmente deitar assistindo uma partida e bebendo um bom drink.

- Então, é você? – O mal encarado me questionava.
- Você... ?
- Você é o cara que roubou a minha garota.
- Desculpa você vai precisa ser mais especifico, não é a primeira vez que me dizem isso.
- Seu filho da puta não vem de gracinha pra cima de mim.
- Não planejo fazer nada por cima de você. Cuidado com as palavras garoto.

Jack trouxe minha dose, olhou para o sujeito.

- Ei Dênis, não arranje nenhuma confusão essa noite, tenho a casa cheia e não quero ter de te por pra fora outra vez.
- Fica na sua Marcos, eu cuido desse. – Ele nem sequer olhou para Jack, nem piscou, apenas olhava para a minha cara como se quisesse me bater com seu copo.
- É Jack, deixe que nos resolvemos. Dênis, meu caro, não faço ideia de quem é a “sua garota”, mas pode ter certeza que se ela está com outro, não é culpa sua, ela apenas encontrou alguém com mais colhões que você.
- Seu bastardo! Devolva minha garota!

Ele se levantou, o copo na mão vinha na direção da minha orelha. Abaixei a cabeça, o copo se estraçalhou na parede do outro lado do balcão.

- DÊNIS, PORRA! – Gritou Jack.
- É bom ter consciência do que esta fazendo.
- Eu vou te matar!

Ele veio em minha direção, me joguei em cima dele, caímos no chão. Segurava seus braços e quando abria sua guarda acertava socos em seu rosto. Me chutaram na costela duas vezes e rolei para o lado. Dênis se levantou, empurrou o desgraçado que me acertou, pegou uma cadeira e me acertou nas costas quando tentei me levantar, rolei novamente e consegui me levantar. Os olhos do filho da puta estavam vermelhos de ódio.

“Morfina, no que diabos você se meteu no passado?” – Eu me perguntava a todo instante.

Dênis vinha em minha direção com uma garrafa de uísque, maldito desperdício! Começou a gritar e correr pra me acertar, porra, ninguém fazia nada para impedi-lo. Abri as mãos e estiquei os dedos como se estivesse em um filme do Indiana Jones, ele levantou a garrafa sobre a cabeça, fui mais rápido acertando um soco no meio da cara. A garrafa caiu, ele não se abalou e me empurrou contra a porta, em seguida acertou uma sequencia de socos em meu rosto. Fiquei ligeiramente atordoado, não conseguia me concentrar em acertar o desgraçado.

Jack finalmente apareceu com um extintor de incêndio e apartou a briga. Fogos expulsos como já era esperado. Sai direto para a padaria próxima a casa de Morfina, Dênis desapareceu logo depois que saímos do bar, fiquei preocupado com ele encontrar ela quando voltasse do hospital, então esperei lá até ela chegar.

Quando finalmente ela chegou, corri em sua direção.

- Ei, Morfie!
- Leo? – Respondeu assustada.
- Oi, como foi o trabalho?
- Mas que merda aconteceu com o seu rosto?
- O que, isso? Não foi nada, só o animal do seu ex-namorado! Caralho Morfina, em que merda você se envolveu?
- Ex? De quem você estava falando?
- Você sabe muito bem.
- Olha, Leo. Eu não esperava que ele voltasse a me causar problemas.
- Te causar problemas? Olha pra porra do meu rosto!
- Dênis tem certos problemas, ele estava sobe tratamento.
- O que? E você saia com aquele cara? Não é possível, todos os seus namorados saíram daquele hospital?
- Ei, o que você está dizendo com isso?

Respirei fundo, doía.

- Vamos subir, eu preciso de um banho.
- Tá.

Depois de um longo banho finalmente me sentia descansado e sem sangue dentro das narinas. Morfina olhava pela janela, provavelmente procurando por Dênis. Ela tinha um copo com vodca nas mãos.

- Não sei como consegue beber isso.
- Olha quem fala. Você vive a base de cachaça, uma dose de vodca não é nada. Como você está?
- Melhor agora, mas vou precisar de um copo desses.
- Acabou de dizer que odeia isso.
- Não quer dizer que eu não tome, afinal, você não tem nada muito forte por aqui.
- Tá legal. Creio que você precise de algo forte para se curar.

Aos poucos ficamos mais tranquilos com toda a situação. Ela me explicou que quando conheceu Dênis ele parecia um cara legal, mas depois que saiu do hospital, após ter sofrido um acidente com a escada de sua belíssima casa, ele ficou louco de ciúmes. Fazia visitas aos ex-namorados dela, a perseguia quando estava desconfiado de algo, ligava sem parar, às vezes chegava a ameaça-la e quando o medo de ser agredida chegou ao limite, eles terminaram. Mas as perseguições e ameaças nunca tiveram fim.

Deitamos na cama, ambos tortos de bêbados. Tirei sua roupa enquanto ela ria e falava besteiras.

- Você é um pervertido, um alcoólatra e muito gostoso!
- Calma que isso é efeito da bebida.

Trepamos, ela gritou a noite inteira, não se conteve nem por um segundo. Fizemos a cama tremer junto das paredes, do chão e das janelas. Eu estava bêbado, excitado e puto, eram os três requisitos para uma excelente transa. Talvez eu fosse apenas mais um dos loucos da vida de Morfina, provavelmente estava me metendo em um grande problema como o daquela tarde. Bom, aquilo não importava no momento, eu tinha o meu pau duro dentro dela como não tinha há tempos, a bebida corria alegremente pelo meu sangue novamente. Era bom me sentir vivo depois de tudo que tinha passado

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Morfina

Meus olhos doíam por conta da claridade, o quarto era inteiro branco, não sei quem achou que deixar um paciente dentro de um quarto completamente branco era algo que o acalmaria em um estado ruim. Eu me sentia como uma ideia pré-matura dentro do infinito dos pensamentos vazios.

- Bom dia, campeão.

Reconhecia aquela voz.

- Alex? Cacete, como eu vim parar aqui? Eu morri? – Tudo ainda era confuso.
- Relaxa, um babaca te pegou com o caro. Estava chapado e furou o sinal vermelho.
- Que cagada...
- Ainda não sei como, mas entraram em contato comigo e estou aqui desde manhã. Bob foi apertar um lá fora, nós ficamos assustados.
- Valeu, é sempre bom ter vocês por perto.

Mais tarde eu descobri o porquê apenas eles estavam ali. Papai teve um compromisso, mamãe estava na praia, meus irmãos nem ficaram sabendo do ocorrido. Sinto-me tão seguro.

- O que eu ainda faço aqui?
- Você levou uns pontos na cabeça, mas está em forma.

Entrou a típica enfermeira dos sonhos. Rosto simpático de expressão tranquilizante, lábios vermelhos, cabelos castanhos, pernas, bunda, peitos na medida.

- Olá, que bom que acordou. Esta na hora de trocarmos o seu curativo.
- Uau... – Mal sabia como reagir. – Olá, enfermeira Morfina.
- Morfina?
- Sim, você me trouxe o mesmo efeito.
- Pra certas partes... – Sussurrou Alex, pelo menos ele achava que o tinha feito.

Alex teve que sair, ele não aguentava ver machucados ou sangue.

- Como você se sente? – Começou a trocar meu curativo.
- Bem melhor agora. – Seus peitos me tocavam.
- Então você é do tipo que prefere morrer jovem e bonito?
- Não, não me acho grande coisa.
- Você é bonitinho, mas se continuar assim acabará logo.
- Não é uma fã, certo?
- Vi na sua ficha que era escritor, consegui ler algo na internet. Gostei.
- Não te agrada meu estilo de vida. Você vê desgraças de mais, é por isso. No seu lugar, eu beberia o dobro.
- Não sou de beber muito.
- Você é uma graça, Morfina.

Ela sorria enquanto saia com aquele rabo enorme balançando.

Me deixaram sair para dar uma volta e respirar um ar puro. Fui fumar um cigarro com Bob e Alex.

- Ó ar puro!
- Esse lugar me dá arrepios. – Disse Bob.
- Odeio hospitais, é o centro das doenças. – Eu disse.
- Foda... – Disse Alex.

Voltamos para meu quarto, enquanto eu esperar a segunda a enfermeira ajeitar meu curativo, ela mal parava para respirar. Bob e Alex falavam com Morfina. Malditos amigos, era a minha garota. Olhavam para mim, sorriam e se foram. Novamente estava sozinho.

Um homem não deve ficar só em um momento como este. Não me refiro ao acidente, mas sim ao local e o sentimento que ele trás. Ao redor haviam doentes terminais, remédios para dor, médicos que não exercem sua profissão, em todos os lados está ela, a morte.

No outro dia recebi a notícia de que queriam me fazer um teste psicológico para definirem se eu seria ou não levado para a clínica de reabilitação.

- Mas que porra? Enfie essa merda no rabo!
- Calma, você não esta são. – Tentava me levar no papo a segunda enfermeira.
- O que? Eu estava bem até um filho da puta tentar me matar. Não preciso disso, este lugar que me enlouquece. É por isso que vocês ainda me seguraram aqui? Reabilitação?
- O senhor tinha álcool suficiente no sangue para derrubar um gorila.
- Leve o seu gorila para o teste. Eu não farei essa merda!

Morfina entrou, estava linda e calma.

- Leo, vamos, fique calmo. Se não há nada de errado, mostre a eles.

Agora ela me queria? Vaca. Como todas, quer se mostrar superior por ter algo além de amor por entre as pernas.

Tomei um calmante e aceitei uma breve conversa.

- Olá, Leonard. Você está ciente do que nós faremos aqui, certo?
- Depende do que quer dizer com “nós”... Sim, estou ciente.
- Daremos inicio ao acompanhamento psicológico. Como você se sente?
- Eu me sinto e isso já é suficiente. Estou vivo.
- Sim. Emocionalmente, como está?
- Excitado, puto, cansado. O que você quer ouvir? Vamos direto ao ponto, doutor.
- Leonard, você sente falta da bebida? Como foram seus dias aqui?
- Deprimentes. Ao meu redor há apenas desespero.
- E a bebida?
- Como você se chama doutor?
- Wagner. Por favor, responda a minha pergunta.
- Wagner, você bebe?
- Sim, casualmente.
- Wagner, eu vou te dizer o que faremos. Você vai entrar para um acompanhamento psicológico e em seguida para a reabilitação, pois você é um alcoólatra.
- Não, espere...
- Sim, você é, não eu. Na verdade, sou o mais sóbrio e são aqui.
- Vamos retomar o acompanhamento, não fuja do assunto, nem tente me distrair. Como são seus dias?
- Não tão ruins como algumas noites. E sim, bebo, mas não preciso de ajuda. Loucos são os que não tomam consciência de seus próprios pensamentos.

Ele se calou, me olhava sem saber exatamente o que fazer. Olhava a faixa em minha cabeça.

- Doutor, nós acabamos por aqui. – Levantei, abri a porta. – Até a próxima sessão, meu velho.

Estava livre outra vez. Peguei minhas coisas, troquei de roupa e sai daquele manicômio. Deixei aqueles monstros para trás. Bem na frente do hospital tinha uma velha padaria, entrei para me refrescar. Pedi uma dose e uma cerveja. Os velhos olhavam para a faixa branca e para o copo em minha mão, eu me virei para eles.

- Um brinde aos santos que criaram essa maravilhosa bebida que um dia nos matará – Os olhares se voltaram para meus olhos. – de prazer!

Eles abriram um sorriso enorme. Deu-se inicio a vida puritana.

O álcool subiu rápido em meu sangue, os remédios contribuíram para isso. Logo estávamos em vivendo em fleches. Tive a sensação de que éramos piratas com nossos copos estourando em brindes no ar, as conversas gritadas e o alegre caos no ambiente. Éramos verdadeiros piratas, io ho, io ho!

Acordei ainda bêbado, minha cabeça doía e meus movimentos eram lentos, pense se tudo aquilo não passou de um sonho.

- Caralho... Tenho de me acostumar com isso.
- Acostumar com o que?

Arregalei os olhos, Morfina estava em pé na minha frente segurando um copo d’água e um remédio. Ela usava apenas uma camisa social branca, tinha as pernas grossas e brancas nuas se aproximando das minhas mãos. Meu coração acelerou, a respiração ficou ofegante com longos intervalos. Se aquilo fosse um sonho, eu não queria acordar.