terça-feira, 28 de junho de 2011

O sopro gelado da alma

Nada como outra noite no bar, lotado, enchendo-me de uísque com gelo para enfrentar o forte frio que fazia, após a meia noite. Vários rostos desconhecidos, como de costume, e alguns poucos amigos, se é que poderia chamá-los assim.

Sentia-me bastante deprimido e, apesar de ter “meus amigos” comigo, sentia-me solitário. Assim, doses e doses de uísque se foram em minutos.

Usava uma jaqueta uma jaqueta surrada sobre uma camisa xadrez velha. Não havia dormido na noite anterior, com isso, o cansaço que sentia era enorme. Conforme passava o tempo e as doses que tomava, só faziam esse cansaço aumentar.

Pensava como queria estar em outro lugar, longe dali. Pensava que todas aquelas pessoas seriam facilmente trocadas em instantes por uma única pessoa, por um único olhar angelical.

Levantei-me e fui até o canto aberto do bar. Acendi um cigarro, sem distanciar-me do pensamento anterior. E entre minhas tragadas (?), uma jovem de boa aparência, cabelo loiro, pele branca e bochechas rosadas veio até mim e questionou-me:

- Me desculpe, mas é você não é? Você é aquele escritor triste. Foi você quem escreveu “A mulher do outro lado do balcão”!

Apenas olhei-a e voltei meus olhos para meu cigarro que espalhava sua fumaça mortífera ao meu redor.

Novamente ele dirigiu-me a palavra:

- Eu realmente gosto do que você escreve. Li todos os seus poemas e seus contos. Você é a nova voz de uma juventude quase perdida – Um sorriso espantosamente branco.

Aquelas palavras. Era aquilo, a consagração do poeta bebum.

Não sabia o que responder, então, eu apenas agradeci e retirei-me do bar.

Eram 4 horas da manhã, eu caminhava pela escuridão da noite enfrentando o forte frio a caminho de casa. Acendi um cigarro, lembrei-me da solidão e pronto, eu estava novamente só... O pobre poeta bebum apaixonado.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um domingo de sol

Diferente dos de mais fins de semana, acordei por volta das 10 horas da manhã neste domingo. Acordei, mas rolei de um lado ao outro da cama durante quase uma hora, até estourar minha paciência e então me levantei.


Cocei os olhos e a barba, e caminhei até a janela. O pouco que via da rua não era grande coisa. O sol batendo contra a janela dos dois únicos carros estacionados por ali e um cachorro velho revirando o lixo.


Apanhei meu maço em cima da cômoda, puxei um cigarro e rapidamente estava espalhando sua fumaça cinza pelo quarto. Notei que havia um poema que eu estava datilografando na noite anterior. No momento, não dei tanta atenção para ele e segui na direção do frigobar no outro canto do quarto.


Desfrutei em uma bela golada de cerveja enquanto sentava em frente ao poema. Coloquei a garrafa sobre a mesa e decidi dar uma olhada naquele pedaço de papel rascunhado:


“Só preciso de seu sorriso


Para não me sentir tão sozinho.


Apenas o seu olhar


Já faz meu coração acelerar.


Quero somente o seu beijo


Para secar meus lábios


Junto aos seus braços


Que encontro meu aconchego.



Você é minha melodia,


Minha canção favorita.


Canção que sempre cantarei,


Pois de você nunca esquecerei.”


Ao terminar de ler, notei o quanto sou apaixonado quando bebo...


Meu estômago roncava, ou melhor, suplicava por uma misero pedaço de pão. Mas não havia nada ali, além de um saco de amendoins, uma maçã e um pastel de queijo com aparência duvidosa.


Por que não me dar ao luxo de comer fora? – pensei.


Como havia levantado cedo, imaginei que poderia manter essa “quebra de rotina” e almoçar algo decente para variar um pouco.


Abri o armário par apegar minha calça e uma jaqueta. Eis que me deparei com um casaco preto, feminino. O perfumo vindo do casaco estava impregnado pelo armário e logo se espalharia pelo quarto todo.


Aquele cheiro me pegou com um impacto tão forte contra as minhas narinas que dei dois passos para trás. Com isso, comecei a pensar na dona da tal peça de roupa que perfumara todo o ambiente.


Apertei com força o casaco e, com um grande sorriso no rosto sofrido e abalado, dei uma longa inalada daquele perfume encantador.


Coloquei o casaco novamente no armário, vesti minha calça, coloquei a jaqueta e sai com um cigarro aceso nos lábios e as lembranças da noite passada voltando à cabeça...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A cor da dor

Em meio às imagens pretas e brancas encontro uma
última cor viva: o vermelho em uma rosa que esta morrendo. A primeira pétala cai
e voa com a brisa leve do vento que bate.


Uma por uma, as pétalas se desprendem e voam pelos
carvalhos da floresta negra. Algumas ficam pelo caminho, presas nos troncos das
árvores ou então, caindo na grama acinzentada.


Essas que ficam para trás, ao tocar o chão ou qualquer
parte da floresta, são dominadas por um grande manto de cor cinza e ar mórbido.
Acabando com todo o vermelho daquela pétala de rosa.


Apenas três pétalas se mantêm na fraca corrente de
ar que atravessa a mata. Uma delas vai girando e girando até se prender em uma
folha seca. Outra, praticamente fora da corrente, se perdeu em uma moita
próxima a outro carvalho.


A última pétala se manteve forte, passando entre
galhos e troncos, até em fim chegar ao final da linha. Saindo da floresta, a
corrente se espalhou pelo céu e a pétala cambaleando no vento caiu na água fria
do rio.


Enquanto perdia lentamente a cor, teve inicio uma
tempestade. As grandes gotas de água caiam com força na no rio, que logo
começou a transbordar fazendo que a cor da pétala se fosse com mais rapidez.


E assim se foi a última pétala da rosa vermelha,
como o sangue que impulsiona os batimentos do meu coração ao ver a dona dos olhos
mais belos e brilhantes que tive a oportunidade de ver um dia.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Uma volta no inferno de minha própria mente

Sinto que estou sendo observado, come alguém estivesse me seguindo e analisando cada movimento meu. Me arrepia a espinha esta sensação que deixa os pelos dos meus braços em pé.


Escuto um sussurro que parece vir de alguém tão próximo que até posso sentir o do demônio ao pé de minha orelha. Ele diz algo que de maneira confusa entendo como “Esta próximo...” Reflito sobre aquilo por um breve momento. O que estaria próximo, mais que merda aquilo queria dizer?! Inferno!


PÁ! Um estalar de dedos. Bati a cabeça contra a mesa. O que aconteceu? Estou sonhando? “Merda! Aquela erva deve ter me afetado” pensei. “Acorda!” um grito extremamente alto que dominou cada preencheu cada pedaço vazio do cômodo e da minha mente.


A escuridão tomou conta do ambiente, como aquilo aconteceu? Meu coração acelerado, um nó na garganta, cala frios apavorantes. “Você esta com medo?” a voz novamente. De repente um soco de direita me atingi, abro os olhos e caio para trás com a cadeira.


Apoio minhas mãos no chão para tentar me levantar, mas sem sucesso. O chão transforma-se em areia movediça e afundo no carpete velho. Fecho meus olhos com força, começo a gritar, sinto estar sendo observado novamente. Abro meus olhos e ele esta lá, sentado em minha poltrona fumando um charuto. Inala uma fumaça negra em minha direção.


Meus olhos começam a arder, sinto algo escorrendo em meu rosto, encostando em meus lábios. É o sangue que sai de meus olhos, como lágrimas. Não consigo enxergar, muito menos pensar. Aquilo era totalmente insano. Não podia ser real, só podia ser mais uma obra de minha mente louca.


A voz novamente: “Você escolheu o caminho da dor, agora tem de suportar as consequências. Acha mesmo que conseguiria escapar de mim? Eu sempre estive ao seu lado te observando, fui eu quem te deu este dom! E você sabe muito bem qual era o preço.”.


Não conseguia raciocinar, era tudo tão confuso, a voz era terrivelmente sombria. Estava diante de um grande borrão preto que falava e fumava. “Que diabos esta acontecendo?!” exclamei.


Eis então que um grande clarão surgi e estava acabado. Abri meus olhos, olhei em volta e eu estava deitado no chão, ao meu lado uma garrafa de vinho quebrada, minha cadeira também ao chão e uma grande duvida em minha cabeça. Pensava e tentava entender se estive sonhando ou era real o que acontecerá. Era impossível ser real, eu estava em divida com Satã? Mais que merda!


Me levantei, arrumei a bagunça, acendi um cigarro ao sentar na cadeira agora levantada. Quando olho para a folha em minha máquina de escrever, estava manchada de vermelho, sabia muito bem o que era aquilo. Arranquei a folha, joguei-a no chão, coloquei outra no lugar e comecei a escrever.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Estrada para Lugar Nenhum

A tanto sobre o que escrever e em tão pouco tempo, que passa rápido. A vida me desgasta e meu cigarro continua queimando Tudo que vivi, tudo que aprendi, será que foi em vão? Posso morrer a qualquer momento, posso estar morrendo. E qual a diferença de saber calcular a raiz quadrada de um milhão trezentos e sessenta e sete se estarei morto. Seja por um câncer, por uma bala perdida ou por um ônibus que me atropela enquanto atravesso a rua pensando no que iriei comprar para comer.


As pessoas se preocupam tanto em como devemos passar a vida, que não pensam em como devemos vive-la agora. Vivemos no presente, não no passado, muito menos no futuro. Não sabemos o que acontecera daqui a 100 anos, não interessa o que aconteceu há 100 anos. Peço perdão pela minha franqueza, mas, eu estou cagando para como foi descoberto o Brasil ou qualquer outro país. Importo-me realmente se terei dinheiro para comer, para beber, para foder. Infelizmente é com isso que tenho que me preocupar, com o dinheiro. Infelizmente, pois vivemos nesse mundo capitalista que gira em torno desse pedaço maldito de papel. Sinceramente, não quero dinheiro, não quero matemática, não quero a merda da previsão do tempo. Quero encontrar um grande amor, viver novas aventuras todos os dias, ter lembranças boas e ruins de cada lugar por onde passei e escrever isso num pedaço de papel. Quero viver como e onde for. Não preciso prender-me a uma cidade poluída e suja, infestada por corruptos, capitalistas do inferno!


Somos criados assim. Aprendemos desde nossa infância que devemos estudar, trabalhar e morrer para o lucro do governo. Eu realmente não me importo com o governo. Não entendo nada de politica, e não quero entender. Quero cair na estrada ao lado de uma mulher que me faça feliz. Sentir o vento batendo em meu cabelo enquanto dirijo a toda velocidade por uma rodovia sem saber para onde ela me levara. É... É disso que preciso. Você ao meu lado, meus poemas e não ter destino. Seguir a Estrada para Lugar Nenhum.

O brilho de uma noite sem lua

Não consigo evitar. Todas as vezes que fecho os olhos à imagem dela me vem à cabeça. Bebo sem parar. Horas e horas, de copo em copo. Nada impede minha mente de me levar até ela. Em instantes estou ao seu lado sentindo seu cheiro, abraçando-a com força. Mas algo me acorda e abro meus olhos. Ela se foi novamente.


Estou só, caminhando por corredores escuros e frios. Assusto-me com a minha sombra no momento em que a luz do letreiro de frente para meu quarto é aceso, por volta das 23 horas. Ando desleixado, de cabeça baixa e com um copo na mão, olhando através da janela observo alguns carros e algumas pessoas fortes o suficiente para caminhar pela rua numa temperatura próxima dos -10 graus.


Nada mais que o silêncio. Eis então, em meio à escuridão vejo o brilho de seus olhos. Dou um sorriso sem graça. Estamos juntos. Amor só é amor quando se sente. Eu te amo, não me deixe mais. Sou um pobre bebum, sozinho com minha loucura, doente de saudade e destruído pela vida.


A noite parece não ter hora para acabar e minha vontade de dormir, mesmo que seja grande devido ao meu cansaço, não é suficiente para me fazer dormir. Mas pensando bem, talvez isso tudo seja um sonho. Talvez eu esteja dormindo com a cabeça em cima de minha máquina de escrever, com minha garrafa vazia ao lado e com as cortinas fechadas impedindo que o sol entre e me acorde.


Penso sobre isso e não consigo identificar se aquilo é um sonho ou não. Continuo só e ao mesmo tempo em sua companhia. Estou enlouquecendo apenas? Ou estou bêbado demais? Merda! Não sei no que pensar, não sei o que fazer, apenas caminho pela casa com um copo na mão.