segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Praça Afonso Pena

A caminho de casa, quarta feira, sol, muito na cabeça, um cigarro aceso entre os dedos, passava pela Praça Afonso Pena. Em volta muita gente indo para o trabalho, fazendo compras ou comprando um fumo do bom, mas o que realmente me chama a atenção são os mesmo velhos moribundos espalhados ou em grupo com um cigarro, uma boa dose de pinga, um jogo de buraco, uma conversa fiada, uma tosse seca. Uma rotina destrutiva, mas agradável. Acordar, beber, fumar, jogar conversa fora, é o sonho de todo escritor, não? Quem sabe...

Nada ao redor é tão importante, dentro daquele circulo é outro mundo, como se o tempo não tivesse importância, talvez ele nem passe. As novidades são feitas do que é velho, as histórias que ficaram marcadas em suas vidas, é claro, com uma pitada de mentiras interessantes.

Assim como o tempo, os problemas também não tem a menor relevância, afinal qual problema se consegue quando sua vida se repete todos os dias? Contas, ex-mulheres, parentes endividados, trabalho, nada disso os atinge mais. É interessantes pensar nisso como uma aposentadoria, poucos a levam em consideração, não é a opção mais vendida na TV.

Você pode achar que está tudo perfeito, até ouvir aquela risada puxada lá do fundo de um pulmão enfraquecido. O guerreiro cachaceiro é mais forte do que um câncer, não é amedrontado por um punhado de pigarro. Aos jovens iniciantes na vida essa força traz arrepios na espinha. Porém, aqueles que sabem valorizar a sabedoria, esse é o incentivo para seguir enfrente de cabeça erguida.

Parente não é família, família não existe mais, o mais próximo disso são aqueles vivos dentro do círculo. Casados ou não, mulher, sexo, beijo, tudo ficou para segundo plano, são homens a serviço de um bem maior, o bem da filosofia do bebum. Existem certas pessoas que nasceram para absorver conhecimento a partir de seu modo de vida e compartilhar esse conhecimento com suas conversas arrastadas, então puxe uma cadeira, abra uma cerveja e se prepare para o que está por vir.

Abro a porta, estou novamente no aconchego do meu lar. Sento em minha poltrona, uso uma das mãos para coçar a testa e a outra para tragar meu cigarro, concluo meus pensamentos junto daquela última tragada. Olhando para a pilha de livros dos meus escritores favoritos, minhas maiores influências tanto para a vida quanto para a escrita, a grande questão surge: seria este o grande fim que me espera?