quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Último Beijo

Peguei as chaves jogadas em cima da escrivaninha, liguei o carro e, em meio a uma tempestade, saí a sua procura pela última vez. Era difícil enxergar para onde eu ia, mas sentia algo diferente, como se minha intuição me guiasse até você. Há meses que não nos víamos e por um tempo a dor era a única em meus dias, apenas ela me fazia companhia. Mas isso havia acabado. Eu estava indiferente ao mundo e sua angústia vivida dia após dia. Seguia em frente, faróis acesos, a tempestade aumentava gradativamente. Quando dei por mim já passara dos limites da cidade, minha intuição me levara para uma estrada deserta cheia de árvores, curvas de alto risco e uma escuridão infinita.


A tempestade que gritava para fora do carro havia entrado, escorria pelos meus olhos a chuva e os raios saiam dos meus gritos, o desespero me encontrara em alguma esquina daquela estrada. Perguntava a Deus “onde estará o meu amor?”. Minhas mãos seguravam o volante com firmeza, as curvas eram intermináveis, a chuva tornava o asfalto escorregadio. Sem tirar os olhos da pista alcancei uma pequena garrafa de whisky que eu guardava no porta luvas por precaução. Abri com uma das mãos, tomava goles longos sem efeito em minha garganta batizada pelos anos passados em campeonatos de boteco.

Quando acordei a chuva ainda caia, havia uma luz mais forte do que a dos faróis do carro, eu finalmente havia a encontrado embaixo daquela árvore sozinha sorridente como sempre. Corri em sua direção, abracei-a forte, lágrimas escorriam de nossos olhos tristonhos. Naquele exato momento me arrependia de todas as vezes que duvidei que nós nos encontraríamos outra vez, me arrependia da dor que você passou sozinha por todo o tempo em que eu lhe esperava e você precisava de um tempo. Meu arrependimento tomava proporções maiores chegando a qualquer lembrança de brigas, discussões, dias em que ficamos sem nos falar, noites em que ficamos sem nos tocar, beijos que eu nunca irei recuperar. Eu sofria abraçado a ela questionando-a o porquê ela preferiu acreditar em sua verdade e não em nossa verdade. Passei dias acreditando na dor ao invés de acreditar no amor, mas isso finalmente acabara ali com aquele abraço de redenção, quando nos soltamos e selamos nosso reencontro com um beijo demorado era clara a conquista da redefinição de um romance vivo em cada fôlego tomado ao longo dos dias e noites que tivemos lado a lado.

Segurando firme em sua mão para que ela nunca mais me deixasse via um acidente na estrada, um carro batido em uma árvore enorme, um homem com o rosto encostado no volante e fumaça saindo do automóvel. Chegamos mais perto, havia sangue escorrendo por sua testa, senti algo quente escorrendo pelos meus olhos. Carros chegavam ao redor do acidente para socorrer o homem preso no veículo, os médicos disseram que ele ainda respirava, mas não foram capazes de reanima-lo, ele desistira da vida.

Nos olhamos, ela disse “me abrace querido, só por um tempo”. Eu a abracei forte e a beijei como se fosse nosso último beijo, de alguma forma eu encontrei meu amor naquela noite, eu tinha encontrado o amor que eu sabia que tinha perdido. Nosso abraço nunca terminou, era o nosso momento de viver nossa história de amor como se mais uma vez fosse a primeira vez.