terça-feira, 19 de julho de 2011

O brilho de uma noite cheia de luz

Enquanto atravessava mais uma madrugada vazia, solitário, desfrutando de uma boa garrafa de conhaque comecei a refletir sobre infinitos assuntos, sobre qualquer coisa que me viesse à cabeça. Pensava na razão pela qual estava sozinho, nas mudanças da lei que definia a pena daquele que fosse pego em flagrante cometendo algum tipo de crime, na bolsa de valores, nos filhos que nunca tive... Mas o que realmente me fez, não pensar apenas num vago momento, mas sim refletir, discutir o assunto durante horas. Foi a própria noite.

Eu caminhei até a janela carregando a garrafa de conhaque em uma das mãos. Olhei bem através dela, tudo que via era, ao contrario do que muitos descrevem ao serem questionados por tal assunto, eu via a rua, alguns carros estacionados, lixos nas calçadas, vagabundos passando e gritando a plenos pulmões. Era uma imensidão de luz, postes acesos durante toda a noite, não se via estrelas no céu, a lua quase não brilhava devido a tanta luz que ofuscava sua energia natural.

Questionava aquilo, realmente martelava a questão em minha cabeça. Como era possível... A noite toda? Mas ainda havia mais. Não tive espanto maior do que quando, em meio a toda aquela investigação pelo motivo que haviam acabado com a definição da frase “E na imensa escuridão daquela noite...”, olhei mais adiante. Era incrível! Luzes espalhadas pelo horizonte. Apenas pequenas bolinhas brilhantes que piscavam e transmitiam uma sensação nova, como se estivesse olhando para pequenos diamantes.

Não sabia ao certo por que me impressionavam tanto aquelas luzes, afinal eram apenas postes de luz, que como os que eu acabara de desprezar por destruir minhas noites sombrias. Talvez fosse a minha embriaguez ou apenas a loucura que havia dominado a minha cabeça após me tornar novamente só. Eu realmente não sei. Mas me sentia bem e ao mesmo tempo distante de algo, distante de alguém enquanto as olhava.

Direcionei meu olhar para a cima, para a lua, que mesmo sendo ofuscada pela luz da “cidade que nunca dorme”, ela ainda mantinha a sua soberania. Dessa vez eu sabia o motivo pelo qual estava observando e ao mesmo tempo sentindo um enorme frio no estômago. Lembrei-me de uma promessa que fiz: Sempre que você olhar para a lua, lembre-se de nós dois, pois eu farei o mesmo. Nunca deixei de olhar para ela com um sorriso no rosto, lágrimas nos olhos e um enorme vazio dentro de mim, como se tivesse perdido uma grande e importante parte de mim.

Afastei-me da janela, era difícil aguentar tudo aquilo, tomei uma grande golada de conhaque e sentei no chão. Sentia-me abatido, doía demais. Era tanto sofrimento de uma hora para outra.

Terminei a garrafa imediatamente. Cai de costas. Sentia que tudo ao meu redor girava cada vez mais rápido. Ao poucos foi parando, e então não sentia nada. Não sentia o chão, não sentia meus braços, não sentia mais dor. Havia desmaiado.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Escrevendo um Romance

Após tomar uma caneca de café bem forte, sentei diante de minha máquina de escrever, afinal eram 4 da manhã, ou seja, hora de trabalhar. Acendi um cigarro como de costume, maldito câncer, vicio maravilhoso. Ajeitei a folha branca na máquina, puxei o cinzeiro para perto e coloquei o cigarro aceso nele.

Tentava ajeitar meus pensamentos, traçando uma linha de raciocínio por eles e assim, escrever outra carta de pura raiva e ódio voltada para a sociedade e, consequentemente, a raça humana. Coisas comuns para um homem bêbado cuja eficácia é escrever.

Porém, inexplicavelmente não conseguia me concentrar em um único pensamento. Me inclinar para trás na cadeira e respirar profundamente, o café ou o cigarro, nada me fazia relaxar e manter o foco em uma única ideia. Sentia o inferno dentro da minha própria mente.

Comecei a ficar impaciente, então me levantei e comecei a andar em círculos pelo minúsculo quarto esbravejando gentilezas para todos os móveis em que esbarrava. De repente parei, observei uma das diversas manchas no carpete bege. Me veio então um impulso. Escrevi tudo o que me vinha à mente naquele instante, organizei os papéis bem bagunçados por todo o chão e me deitei. Levei as mãos a cabeça, fechei os olhos e estava pronto. Podia sentir cada pedaço de papel espalhado pelo chão, via-os todos em minha mente, eram meus pensamentos organizados numa bagunça com papéis.

Me sentia bem comigo outra vez, organizei os pensamentos todos. Um romance acabara de ser criado a partir daquilo. Era uma histoória de amor entre uma renomada advogada e um escritor bebum que havia sido preso por causar transtorno numa igreja e por estar dormido numa praça pública próxima a uma escola primária, fedendo a cachaça e vômito. Apenas outro romance clichê mostrando que os opostos nem sempre são tão “opostos” assim. Por fim, me levantei e transformei o texto pensado em um conto de 18 folhas.

Enfiei as 18 folhas em um envelope que deveria mandar logo pela manhã aos editores da revista que havia me contratado naquela semana para fazer exatamente isso, um romance curto entre duas pessoas distintas e com certas diferenças.

Recolhi as folhas espalhadas no chão uma a uma. Coloquei-as sobre a mesa, acendi um cigarro e me servi uma bela dose de whisky para comemorar o trabalho bem feito. Enquanto dava uma tragada profunda sem prestar muita atenção, desviei o olhar da ponta do cigarro para o monte de folhas sob a mesa. E a primeira delas estava escrito algo que não me lembrava de ter escrito, mas que sabia o que o porquê tinha escrito.

Estava escrito naquela folha o primeiro conto que escrevi desde que decidi me tornar escritor. E com carinho, decidi guarda-la em minha gaveta, junto a outros objetos de grande valor sentimental e que me trazem ótimas lembranças.