sábado, 10 de setembro de 2011

Ao Inferno

Passeios últimos três dias enfiado dentro de casa a base deum grande estoque de bebidas alcoólicas, cachaça velha, vodca e conhaque, sem contar meu cigarro.

Não sei ao certo, mas acredito que era uma quarta-feira, depois de uma longa noite banhada a muitas doses de cachaça e conhaque, acordei abraçado a minha velha maquina de escrever, que herdará de meu avô.

Estava eu no processo de finalização de um trabalho, um livro. O enredo era sobre um poeta renomado, porem em decadência, a procura de uma razão para seguir em frente. Ele procura dentro de incontáveis garrafas de rum e dentro de varias mulheres, em todos os sentidos. O pobre, e solitário, poeta atravessa uma grande depressão, enlouquece como parnasianismo, apaixona-se pelo romantismo e vive o realismo. Suicídio é algo constate em seus pensamentos. E no fim... Bom, ainda não cheguei lá.

Levantei-me, fui ao banheiro para descarregar e lavar meu rosto. Quando me deparei com a minha imagem no espelho sujo e quebrado, vi meus olhos completamente vermelhos, minha barba tinha o comprimento de quatro dedos.

Lavei meu rosto, escovei meus dentes amarelos, aliviei-me na privada verde musgo e voltei para a máquina. No momento em que eu me direcionava para a escrivaninha, notei que eu não sentia as minhas pernas, meus braços, minha cabeça... Não sentia nada! Estava eu sonhando? Provavelmente era o efeito do álcool consumido durante a noite.

Acendi um cigarro, dei uma rápida lida nas últimas páginas que eu havia escrito. Tirei da gaveta da escrivaninha, debaixo de alguns rascunhos, um de meus livros prediletos - O Livro de Praga: Narrativas de Amor e Arte, de Sérgio Sant’Anna. Passei a mão na capa, gostava muito dela, e o abri: “Mantenha-me em sua memória, deixe de fora todo o resto.”. Li a dedicatória, então, um sorriso, um breve momento de lucidez e paixão surgiram de maneira natural.

Coloquei o livro de volta na gaveta enquanto terminava meu cigarro. Apoiando-me em meu braço, recostado na cadeira e brincando com os pelos do meu rosto, entrei novamente em transe.

Era como se tudo estivesse em câmera lenta e em preto e branco. A cada piscada dos meus olhos, o meu estado, de sonho e alucinação, apenas aumentava.

Fechei meus olhos, podia sentir o vento em meus cabelos, meu corpo balançava conforme a ventania aumentava sua força. Quando abri os olhos, eu estava no topo de um edifício. De repente silenciou-se a escuridão do momento, assim, pulei... Não sentia mais o vento, apenas um enorme frio no estômago. Via-me caindo cada vez mais rápido na direção do chão, meu estômago congelava, minha garganta formigava e então, quando iria chegar ao fim da linha, abri os olhos novamente.

Enquanto retomava a consciência, suando como um porco, tremendo e com calafrios, notei que eu estava jogado no chão do meu pequeno quarto. Sem saber como fui parar lá, me levantei. Tomei o que sobrou do conhaque que estava no copo ao lado da cama e em seguida deitei.

Olhava assustado para o teto. Sentia algo gelado pressionado contra a minha cabeça, enquanto o suor escorria pelo lado esquerdo do meu rosto.

Quando dei por mim, eu estava segurando uma pistola, com ela apontada para minha cabeça. Não entendia o que estava acontecendo, escutava uma voz feminina, muito familiar ao fundo gritando. A voz me chamava, dizia que não valeria a pena e que me amava. Eu sabia de quem era aquela voz... Minha mão suava, meus olhos lacrimejavam e eu dizia que não o faria, mas nada que eu realmente fizesse poderia impedir o que estava para acontecer.

A bala perfurou meu crânio, atravessando a minha cabeça e, ao contrário do que muitos dizem, você sente tudo aquilo, toda aquela dor, devagar, sofrendo... Veio como um trem, não conseguia respirar, tremia e suava novamente. Acordei daquele sonho, ou algo assim.

Era como se alguém estivesse ao meu lado, de pé, me olhando sofrer e morrer por dentro. Talvez fosse o maldito Diabo outra vez.

Permaneci paralisado por alguns instantes. Então me levantei, esfreguei o suor na minha testa e sentei em frente à máquina. Servi-me de um copo de conhaque e o mandei direto para meu fígado. Outra dose, virei o copo.

Tentava entender qual o significado, se é que havia algum sentido para o que aconteceu. Ao mesmo tempo, eu tentava simplesmente esquecer e voltar a dormir, ou elo menos finalizar meu trabalho.

Pensava, pensava, pensava... FODA-SE! Não quero saber se era o Diabo vindo buscar minha maldita alma ou quem quer que seja atrás dela. Eu tenho muitas garrafas pra beber e um livro pra escrever, coisas mais importantes do que pensar nos meus demônios assombrando novamente meus sonhos, ao inferno com eles! Ao inferno com vocês todos! Ao inferno!

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