quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Reverenciando o Sol

Uma hora toda a dor é amenizada e então surge um sentimento de impulsividade, de coragem para atitudes que você não teria antes. Eu estava trancado, literalmente, dentro de casa durante duas semanas. Bebendo todos os dias, fumando dezenas de cigarros e escrevendo cada dia menos. Mas como acabei de dizer, uma hora a dor é amenizada e o sujeito toma coragem de por a cara pra fora de sua toca.

Eram 22 horas quando essa vontade de sair da minha zona de conforto bateu. Sem explicação logica, mas era algo sentimental, que vinha de dentro. Tomei um banho longo, deixei toda a sujeira que estava grudada em cada célula do meu corpo cair junto à água do chuveiro e escorrer pelo ralo. Após o banho, me encarei, como de costume, de frente ao espelho. Não sentia a raiva e o ódio mais, sentia algo novo, queria algo novo. Olhei para toda pelugem em meu rosto, cerca de seis dedos de barba e então com uma tesoura consegui tirar cinco dedos.

Sem pressa terminei de me aprontar para encarar o mundo lá fora. Vesti as roupas que sempre usava: calça jeans, camisa preta, all-star e uma camisa xadrez velha por cima caso esfriasse durante a noite. Enchi meu cantil, peguei a chave do carro e me mandei pela porta.

Dirigir para mim era algo relaxante. Você pode sentir, de certa forma, as rodas do carro deslizando pela estrada, enquanto o vento bate contra o capo. Liguei o rádio, toca o CD da minha banda favorita, Pearl Jam. A música, juntamente da estrada vazia e da lua cheia... Era tudo que eu precisava naquele momento.

Rodei por algum tempo, até encontrar um píer que dava de frente para um vasto campo aberto, talvez um parque ambiental. Encostei meu carro e fui me sentar num banco bem na ponta do píer. Devia ser bem tarde, não havia ninguém por lá, estava muito quieto e ventava um pouco.

Respirei fundo com meus olhos fechados e soltei o ar devagar, era mais um meio de aliviar a dor. Comecei a dar pequenas goladas no cantil enquanto fumava um cigarro. A visão, mesmo que pouca devido à vasta escuridão, ainda sim era magnífica e única.

Sentado ali, diante do nada, pensando em nada, apenas respirando fundo, passei horas desta maneira. Enquanto o sol nascia, diante de meus olhos, via um brilho naquela grande bola flamejante que eu não havia notado antes, talvez por estar sempre carregando tanta raiva dentro de mim, não quis parar por um segundo e notar tal brilho. Era realmente bonito, o sol se erguia, iluminava cada pedaço de terra, cada ser vivo daquela região, ele fazia o seu trabalho e muito bem.

Agora eu entendia, o sol era como um ser humano, bonito por dentro e explosivo ao mesmo tempo. Todos temos nossos dias ruins, temos de por pra fora de alguma forma, como um instinto. Mas mesmo assim, todos temos algo de especial dentro, mesmo que bem lá no fundo. Essa é a beleza do ser humano, até mesmo o pior de todos, se é que podemos classificar alguém melhor ou pior de maneira geral, possui algo diferente.

Aquela altura eu já estava bêbado, mas eu estava feliz por passar minha madrugada contemplando a beleza dos pequenos detalhes da natureza que cerca essa maldita cidade de pedras. Sentia-me aliviado com tudo aquilo. Era a hora de voltar para casa, então peguei meu carro e voltei para minha vida.

0 comentários:

Postar um comentário