quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Não Há Vencedores

Minha garota e eu estávamos em um bar próximo a minha casa. Eu queria esfriar a cabeça. Bebia meu uísque enquanto escrevia em um caderno de bolso, tentava achar um lugar onde a atmosfera não fosse enfestada por meus pensamentos negativos e minhas culpas. Por isso fui a um lugar onde houvesse tudo isso, mas a dor e a culpa na atmosfera eram das pessoas ao meu redor, o que aliviava minha mente.

Ela bebia seu copo de cerveja com as duas mãos, pois já estava alta e falando demais, o que me atrapalhava não apenas para escrever, mas também para encontrar paz em minha mente. Afinal, ela não só falava, mas se movia de um lado para outro com aquele copo sujo de batom vermelho.

Por que ninguém escrevia ou mostrava de alguma forma o que era a vida do “papai noel” fora o dia de natal. Um “papai” bêbado, acabado e rabugento, passando dias e dias trabalhando para que no fim, todos sejam recompensados e sua fama seja dada para o lucro dos outros. Apenas um velho filho da puta e bêbado que não tem o reconhecimento que tanto quer. Era o que eu tentava escrever.

Uma loira com lábios extremamente grossos e alaranjados se aproximou de mim, olho para meu rosto. Minha expressão não era nem próxima de algo amigável.

- E então, outro copo?
- É, pode ser.

Três caras com estilo surfista entraram e se sentaram bem ao nosso lado. Dois deles eram loiros de franja sobre os olhos e um de cabeça raspada com sua camisa desabotoada expondo seu peito e uma expressão semelhante a minha. Pediram uma cerveja e ficaram nos encarando.

Minha garota não parava de falar e se movimentar, ela então notou a presença dos três. Ela disse algo para o de camisa semiaberta e abriu um enorme sorriso embriagado de ar promiscuo e malicioso. Eu que tentava escrever apenas levantei meus olhos para aquela cena. Bem na minha frente.

Ele correspondeu. Sua expressão fechada rapidamente se transformou em algo que me incomodava e muito. Aquele sorriso de lado, os olhos meio fechados olhando para a vadia que acabara de se soltar para ele, mesmo estando acompanhada. O que ele teria a perder? Estava na vantagem de ter mais dois comparsas e eu, apenas um e de cara amarrada, encarando um maldito caderno cheio de rabiscos inúteis.

Imediatamente o meu sangue subiu, meus punhos se contraíram e num ato impulsivo, eu me levantei e entrei no meio dos dois. Dei as costas para ele, olhei para ela com ódio.

- MAIS QUE PORRA FOI ESSA?!?
- O que foi...? Há há há. – Ela respondeu com sua voz tremula devido ao álcool.
- Não me vem com essas merdas! Que merda foi essa que você acabou de fazer? Hein!

Eu não pude acreditar, aquele babaca se levantou, um surfistinha de merda!

- Hei! Olhe como você fala com ela. Tá pensando o que?
Sem nem mesmo me virar, eu o respondi com hostilidade.
- É melhor você não se meter, ouviu bem?

Ela se levantou e tentou se aproximar dele cambaleando em cima de mim, que me mantinha entre os dois. Eu a agarrei pelos braços com força, sacudi enquanto jogava mais palavrões em cima dela e a empurrei de volta para o banco.

- Tire suas mãos dela! – Disse o surfista.
- Ai! – Ela exclamou.

Rapidamente mudei meu alvo. Virei-me, puxei-o com uma mão pelo colarinho da camisa e a outra segurei com força seu antebraço direito.

- Olha aqui, cai fora antes que eu meta a mão na sua cara!

Os outros se preparavam para agir a favor do careca. Os seguranças do bar logo os seguraram. Não era a primeira vez que eu me envolvia em uma confusão naquele bar, muito menos naquela região.

- Você não tem a menor ideia de onde tá se metendo. Eu vou te matar, entendeu? – Sussurrei ao pé de seu ouvido.
- Você já bebeu o suficiente, não sabe o que esta falando. Me matar? Sai daqui, é o melhor pra todos.

O safado queria jogar a culpa pra cima da minha bebedeira. Fazer com que parecesse que eu era o único culpado por estar bêbado e não ter controle das minhas atitudes. Isso não iria acontecer de jeito nenhum.

- É melhor você sair daqui Leonard, vamos ou eu vou ter de fazer isso. – Disse um dos seguranças.
- Eu não estou bêbado! Vocês me conhecem, não quero fazer nada, apenas levar a minha namorada pra conversar lá fora, APENAS CONVERSAR!

Saímos, eu e ela. Ainda cambaleando, ela sorria com a mesma malicia de antes. Meus punhos já não estavam mais sob meus controles e a apertavam o braço. Com uma mão em um dos braços e a outra apertando aquela boca vermelha, eu disse:

- Olhe aqui sua vadia, você vai me dar uma explicação e das boas! Ou se não...

Eu não sabia o que estava fazendo, não estava bêbado para tal ato e não pensava em fazê-lo. Queria que ela me desse à resposta certa, ou eu apenas a largaria ali colocando um fim em tudo. Mas o que realmente passou pela minha cabeça foi o que eu mais temia, o que eu sempre tentei evitar. Eu sou um cara impulsivo, violento, carrego a raiva sempre como um carma e é claro, a cachaça... Todas as características de algum vagabundo que não tem seus atos sob controle, nem possui algum pingo de ética moral.

Tomei novamente a lucidez, olhei o que estava fazendo, ali segurando aquela mulher e no que estava pensando... Meus olhos se encheram de lágrimas, minhas mãos começaram a tremer, mas antes que eu pudesse solta-la e me mandar da li, senti uma enorme pressão contra a minha nuca. Cai no chão.

Levantei minha cabeça devagar, olhei em volta. Eram os três surfistas. Não poderia ficar ali caído por causa de apenas um golpe, eu tinha de me defender, colocar meus colhões a prova. Fiquei de pé e estava pronto para a guerra.

Dois de uma vez. Puxei um pela gola impulsionando-o para o chão com força e o outro, puxei para perto pela manga da camisa. Consegui acertar um mata leão e o larguei longe para segurar o terceiro, o careca. Ele veio devagar com aquele sorriso de canto e olhos meio abertos. Errou as duas primeiras tentativas, eu acertei um direto no queijo e outro no nariz. Ele sangrava muito sobre aquela camisa cheia de coqueiros. Fui para cima dele, mas me pegaram distraído. Os outros dois me atacaram pelas costas com um cone do estacionamento. Eu estava cercado. Rodava encarando os três diretamente nos olhos. Um deles tentou algo, eu acertei um jab, mas de nada adiantava meus esforços. Fui ao chão novamente com um chute na perna esquerda e um soco na costela.

Eles me pisoteavam, chutavam e socavam. Em alguns segundos não via mais nada, a última imagem que me recordo era a de minha garota indo embora com eles refletida em uma poça de sangue. Ouvi dizer que os dois seguranças e um amigo meu, dono de outro bar me carregaram até a porta de minha casa e me deixaram dormindo lá.

No outro dia, não pensei mais no que havia acontecido na noite anterior. A única coisa que me vinha à mente em relação aquilo, era que nada valeria a pena por um tempo. Não há vencedores numa guerra onde você é a minoria que já começou derrotada.

0 comentários:

Postar um comentário