sábado, 10 de dezembro de 2011

Adeus Inesperado

Passava horas em frente a maquina, nada saia dela. Era uma semana difícil. Difícil de comer, beber, acordar, viver. Minha bebedeira havia aumentado, andava muito nervoso com algo e com uma grande tristeza sem motivo.

Fui até o mercado para comprar mantimentos como: bebidas, cigarro e algo que seria fácil de cozinhar, ovos por exemplo. Não havia muita variedade de bebidas lá, peguei algumas garrafas apenas. Estava economizando dinheiro, afinal a economia não contribuía muito com os meus vícios. A fila estava grande. Gente pobre é como a comida que eles compram. Um saco de biscoitos é para aqueles que têm mais de três filhos, pros bastardos fecharem a boca comendo. Comida congelada é para os que têm um emprego regular de salário mínimo e consegue bancar a comida mais cara. Bebidas são para os que não estão dando a mínima para a vida já que estão no fundo do poço e não acreditam que podem descer mais. Assim como eu.

Finalmente chegou a minha vez. O atendente era esquisito, tinha espinhas na cara, o cabelo longo e uma cara de bobo. Quando me viu, analisou minhas compras como se ele fosse superior a todos os clientes do estabelecimento, apenas por ser ele quem “determina” quanto você estará perdendo para ele.

- A noite promete hein! Tantas garrafas, o senhor deve estar preparando uma festa...

Eu o encarei com todo o ódio que eu sentia aquela semana toda, direcionei isso tudo para os olhos dele que me encaravam de volta.

- Olha aqui sei pedaço de merda, por que você não faz a porra do seu trabalho e não me enche o saco! Eu só quero pagar e ir pra casa me encher de cachaça, de uísque, do diabo que for! Então cala a merda da sua boca e faça o seu trabalho!

Ele me olho com hostilidade e surpresa, então, sem falar nada, apenas passou minhas compras e eu o paguei. Sai rápido de lá. Malditos atendentes!

Guardei tudo em casa, tirei somente uma garrafa de conhaque e um maço para começar o processo de descarrego mental. Era impossível não sentir toda aquela energia negativa no ar. Tudo se tornava pesado e frio. A bebida que descia pela minha garganta era como o liquido da morte, rasgando tudo dentro de mim e queimando cada célula.

Bebi durante horas, a garrafa sempre parecia estar mais cheia, mesmo eu bebendo um copo a cada 15 minutos. Decidi tentar por pra fora, o álcool começava a subir a cabeça, era a hora de tentar escrever. Sentei-me enfrente a máquina, ajeitei o papel, meu copo e o cinzeiro. Tomei um gole, respirei fundo e comecei. Seria algo fora de livros, contos para jornais ou revistas. Seria apenas uma carta, para mim.

Eu estava focado, a coisa começava a andar. E então, bateram em minha porta.

- Hei! Cocain tem um telefonema pra você lá embaixo, no bar.

- Tá! Já vou descer.

Virei o copo, aquilo tinha me enfurecido. Deixei minhas coisas como estavam e fui até lá atender ao maldito telefonema.

O dono do bar que ficava embaixo da pensão onde eu morava se chamava Arthur. Ele era o cara bacana, cuidava dos bêbados da região, logicamente, dando mais álcool aos pobres rejeitados da sociedade. Mas ele os tratava com respeito, o respeito que um viciado pode merecer.

- Obrigado Artie.

- Nhá! Disponha Cocain.

Para Freud, a morte era uma questão inevitável para seguirmos vivos. No meu modo de ver, a morte é algo que muitos tendem a esquecer, enquanto outros “vivem a espera”. Ninguém consegue fugir da morte, ela chegará para todos. Não deveríamos viver presos às regras de outros. Não deveríamos fazer o que nos é ordenado, para podermos viver. Nós deveríamos viver livre. Mas o que é a liberdade? Viver em uma sociedade onde a ordem é lucro a todo custo? Ou em uma sociedade em que a igualdade é a ordem, porém ninguém merece nenhum reconhecimento maior por seu esforço se não for dividir o lucro com todos ao redor.

Não há uma maneira de decidirmos o que é ser livre, o que é ser feliz, o que é viver bem. Não podemos fazer o que quisermos, o que acreditamos ser o caminho da nossa felicidade. Viver é uma merda se você é forçado a fazer algo. Morrer é uma merda se você não sabe o que acontece quando você morre, POR QUE VOCÊ ESTÁ MORTO!

Eu me sentei novamente em frente a maquina, mas algo havia mudado após o telefonema. A raiva, o ódio, ambos foram embora e deram lugar a tristeza. Eu me sentia podre por dentro. Olhava para o pedaço de papel rabiscado e não via nada. Não queria beber, não queria fumar, não queria escrever, não queria viver. Encarava o papel como se ele fosse um espelho que mostrava a minha verdadeira face. O meu eu não era de se apreciar, eu estava enjoado de tudo o que via. A realidade caiu diante de meus olhos.

É difícil encarar o seu verdadeiro ser. Você nunca irá gostar do que descobre. Eu via tudo o que perdi, por culpa minha. Na cabeça era tudo claro por alguns segundos, mas não durou muito e logo a duvida surgiu. O que fazer agora? Estou morrendo aos poucos, não há como voltar atrás. E o pior de tudo, estou sozinho.

A vida não seria mais a mesma depois daquilo. Algo dentro de mim acabara de morrer. Esse pedaço será insubstituível e a dor será inconsolável, não importa o quanto eu beba, fume ou qualquer outro meio de me matar seja escolhido. Você se foi e isso é real, eu nunca mais vou poder te olhar nos olhos outra vez. Ficara na memória apenas as lembranças de manhãs maravilhosas ao seu lado na mesa do café. O seu toque, seu jeito de falar, suas frases e seu abraço inconfundível, serão essas lembranças que sempre guardarei. Pois eu te amo e não tenho mais medo de dizer. Peço perdão por dizer isso tantas vezes como uma simples resposta. Eu te amo, sempre amarei seja viva ou morta, você sempre será a mais importante na minha vida.

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