segunda-feira, 9 de abril de 2012

Mijando Sangue

Faziam três noites que eu não voltava para casa, era impossível voltar quando se está bêbado a ponto de apagar toda noite. Por duas noites eu dormi no sofá da casa de Mélanie e na última eu não consegui sair do banheiro. Ela novamente sentia que aquilo era ruim para mim.

- Bom dia eu querido.
- Dia? Mas já?
- Sim, outra noite vazia em sua memória?
- Merda... – sussurrei para mim mesmo.

Ela se sentou ao meu lado no sofá e colocou uma bandeja com um copo com café e dois pães com manteiga sobre a mesa.

- Nós precisamos conversar. Não dá pra você continuar se matando desse jeito.
- Mel, não faça isso. Não tenha ciúmes dela outra vez, nossa relação é estritamente profissional.
- Você não precisa beber para escrever! Faz dia que não saem mais àquelas palavras lindas da sua boca, saem apenas mais de seu fígado em forma de vômito!

Tomei uma grande golada de café, exatamente o que eu precisava, estava vivo novamente.

- Olhe meu amor, vamos estabelecer uma coisa; eu passo a me controlar com a bebida e você não me deixa mais apagado naquele banheiro, minhas costas estão me matando!

Era sábado e eu havia combinado com Bob e Alex de nos encontrarmos para conversar e beber, mais do de sempre, exceto pelo fato que todos levaríamos nossas acompanhantes para finalmente serem integradas ao grupo. Bom, isso era o que Alex queria acreditar, já que ele iria apenas exibir seu novo troféu ruivo de 20 anos de idade.

Fomos para um bar novo, novo para mim, Bob era amigo de um dos garçons e Alex era conhecido no lugar como “O Urso Bêbado”. As horas se passaram, os copos esvaziavam cada vez mais rápidos e todos estavam bêbados. Eu e Alex começamos nossa velha disputa de doses, cada um tomava cerca de três a cada 10 minutos.

- Esse é o problema de hoje em dia, se continuarem inventando leis estúpidas para que nós não possamos beber ou fumar em lugares públicos, por exemplo, logo seremos proibidos de olhar diretamente nos olhos de uma mulher, ou de falar a palavra maconha na rua! – Se expressou Bob.
- São esses políticos idiotas querendo nos enganar criando leis sem sentido ao invés de fazer algo decente para a nossa sociedade e assim, acabam acalmando as massas. – A morena, cujo nome já não me recordava, continuou o que Bob havia dito.

Depois de certo ponto, eu me cansava dessas discussões de bar e me concentrava apenas no meu copo e nos lábios doces da minha francesa. Ela se levantou, me deu um beijo que quase me derrubou da cadeira e foi até o banheiro. Aproveitei aquele momento para matar mais duas doses acompanhado por Alex, O Urso.

- E então Bob, quando sai seu filme? – Perguntou Alex.
- Ainda não temos uma data certa, mas acredito que não vá levar tanto tempo como aconteceu com o último... Provavelmente no próximo festival de cinema, eu consiga leva-lo para as telonas!

Meu limite já havia sido ultrapassado há muito tempo, eu tinha tomado uma garrafa de vinho e dose latas de cerveja antes de chegar ao bar, contando o que eu tinha tomado durante as horas que ficamos lá, era uma boa somatória para outro apagão. Com forme a frequência que você bebe em excesso, sua memoria tende a falhar cada vez mais e esses apagões são inevitáveis.

Levantei lentamente meus olhos, minha expressão não era das melhores, quando consegui focar minha visão na imagem a minha frente, vi Mélanie sendo levada contra a parede por um cara alto, cabeça raspada e aparentemente forte.

- Cara, você não parece muito bem. – Disse Bob.

A preocupação dele não me servia de nada, minha mente estava focada ali, em Mélanie. Juntei forças para me levantar e ir em sua direção, cambaleando mas consegui. Peguei o brutamonte pelas costas, acertei um soco bem no meio do nariz e o joguei sobre a mesa. Ouvi gritos, possivelmente eram de Mel. O próximo soco para ele foi como uma bala, mas para mim foi como um foguete sendo lançado para o espaço, pois assim que eu o acertei não me recordo de mais nada.

Abri meus olhos devagar, minha visão estava embaçada e meu corpo completamente dolorido. Aos poucos me levantei e dei uma olhada ao redor.

- Mas que porra de lugar é esse?!
- Bom dia, Bela Adormecida. – Era Alex.
- O que aconteceu? Como eu vim chegar aqui?
- Cuidado, você não tá muito bem. Eu te trousse para a minha casa, sua francesa me pediu para cuidar de você, ela parecia bem nervosa e queria que você ficasse com um amigo.

Olhei para minhas mãos, estavam com machucados e sangue seco, meus lábios inchados e provavelmente meu olho estava roxo, pois doía muito, mal dava para abri-lo.

- O que aconteceu?
- Você foi pra cima de um cara que tentava se dar bem com a sua garota, até foi uma boa briga, você o derrubou e acertou belos socos, mas o cara era da polícia... Ele e seus outros dois amigos. Eles te deram uma surra, você foi expulso do bar, por sorte o amigo do Bob não colocou o estrago na nossa conta.
- Isso é sorte? – Olhei com raiva para ele, que sorria.
- No final, você estava deitado na rua cuspindo sangue. Sua menina me pediu para cuidar de você, sabe como é, um ombro amigo.
- Ela não conhece muito bem meus amigos... Anda logo, abre uma garrafa, eu preciso beber até esquecer que essa merda toda aconteceu.
- Mas é claro, tudo pelos amigos!

Fui até o banheiro, me olhei no espelho, não tinha sido uma boa briga, eu fui destruído e ninguém se quer tentou me proteger. O problema é que não da pra se proteger de si mesmo, sua mente é mais forte que seu corpo. Coloquei pra fora e comecei a mijar.

- Caralho, to mijando sangue!

0 comentários:

Postar um comentário