segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Triste e Linda

Devagar, eu girava a poltrona para os lados, quase afundado no couro velho e gasto do encosto. Um copo vazio sobre meu colo, uma das mãos brincando com a ponta da barba e a outra fazia a ligação do cigarro com meus lábios. Fazia aquilo há algum tempo, pensando, esquecendo, observando, apenas deixando ir e vir... Ela viria, eu podia sentir.


Tomei consciência que estava com os olhos cerrados, mas na verdade eu só estava ficando bêbado, enchi meio copo, que virei em um único gole logo em seguida. Era o empurrão que eu precisava para começar o trabalho, escreveria algo sincero, tinha que vir de algo tão belo quanto às palavras que seriam marcadas no pedaço de papel.

Minha garganta rasgava enquanto o whisky descia, respirei fundo, percebi que ela estava acordando.

- Eu te acordei?

Ela não respondeu, coçou os olhos e sorriu com os lábios fechados para mim, a luz da manhã brilhava em seu rosto.

Metade de sua coxa estava para fora do lençol, seu longo cabelo castanho caia para o lado direito do rosto, um pouco bagunçado, era tão natural. A camisa branca dava uma visão clara dos seios brancos com três pintinhas claras. O pescoço inclinado para o mesmo lado do cabelo jogado... Mas eu realmente me apeguei ao seu olhar, seu olhar triste, sua tristeza carregada de beleza, sua beleza triste me fazia sentir único ao admirá-la.

De alguma forma estranha sentia que ela me abraçava, encostada com a cabeça em meu peito, encaixada com meu queixo, os braços ao redor da minha cintura e sua orelha ouvindo meu coração bater. Ao mesmo tempo sentia algo perfurando minha costela, meu coração atravessando meu peito e minha garganta fechando em um segundo.

Ela se aproximou como um felino se sentou em meu colo e encheu meu copo. Tomou tudo sem fazer cara feia e ainda me deu um beijo demorado, uma mistura de whisky com um pouco de saliva. Levantou e foi ao banheiro, fechou a porta.

Fiquei paralisado por um rápido instante olhando para a porta de madeira fechada. Em um piscar de olhos retomei minha consciência, me voltei para o trabalho. Com a ponta dos dedos fui capaz de criar uma obra-prima, triste e linda.

2 comentários:

Anônimo disse...

Seus textos são maravilhosos! Um melhor que o outro!

Leonard Sevilhano disse...

Obrigado pelos elogios! Fico muito contente e agradecido, uma pena que pelo anonimato meus agradecimentos não possam ser mais apropriados.
Seja sempre bem-vindo(a)!

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