quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Antes Só, Do Que Ao Seu Lado


A fumaça saia bela janela aberta, o sol não penetrava meus óculos escuros, a música não fazia barulho suficiente, suas pernas de coxas firmes e seminuas não me distraiam o suficiente, nada era tão irritante quanto a sua voz... Estávamos a caminho da Bienal, mas minhas mãos pendiam para outra direção, para debaixo do primeiro caminhão de carga que passasse por nós.

Eu a olhava como se observasse uma obra de arte se desfazer. Ás vezes eu penso que no futuro não deveríamos misturar certas inovações com a arte, imagine a Mona Lisa como uma obra interativa e que pudesse falar, reclamar, fofocar ou perguntar se o certo é “Froide” ao invés de Freud, aquele cara que fala de fazer sexo com seus pais.

E então, junto com os quatro cigarros e a meu humor que se espalharam pelo ar, minha paciência entrou no mesmo barco, se foi. “Cê acha que tem vida após a morte?”, “O que cê pensa sobre filhos?”, “Vai demorar muito pra gente chega?”, “A gente tem que ir pra Ibiza no fim do ano!”. Peguei a primeira direita que nos levasse de volta para a Dutra.

Pisei fundo até chegar a um ponto de ônibus na beira da estrada, parei o carro quase sobre a calçada. “Desce.”, eu disse com firmeza na voz. Ela não sabia como reagir, não conseguia chorar, mal conseguiu mexer os malditos lábios vermelhos para responder, “O que cê tá fazendo? Como eu volto pra casa daqui?”. Abri a porta para ela, que desceu ainda confusa. Sai com tanta pressa que mal pude entender o que ela havia gritado após elogiar minha pobre mãe.

Tirei grande proveito da minha habitual solidão no evento, que para coroar com grande classe, fui presenteado com um livro de poesias, todas dedicadas à sorte de estarmos vivos e pensantes. Solitário ou não.

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