sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Outro Mistério

Bar cheio, todos os lugares ocupados. Eu estava sozinho naquela noite, queria descansar, tomar uns goles e apreciar o show.

- Boa noite, senhor. O que gostaria de pedir?

Eu finalmente fiz a barba, quero dizer, aparei-a.

- Olá, eu quero um dos seus melhores uísques. E um conhaque.
- Estarei de volta em um minuto.
- Obrigado.

Logo ele voltou com meu pedido.

O show estava prestes a começar, subiu no pequeno palanque um cara sozinho de cabelos longos, barba para fazer, sorriso amarelado e meio rouco. Apresentou-se e deu inicio ao concerto.

- Oi, me desculpe pelo incômodo, mas... Posso me sentar?

Uma mulher linda, cabelos longos e negros, olhos escuros, memoráveis pernas por de baixo da saia.

- Por favor, sente-se minha querida.
- Quanta gentileza. Meu nome é Raquel.
- Leonard.
- E então, o que você faz Leonard?
- Além disso? – Tomei meu conhaque. – Eu escrevo.
- Jura? Que legal!

Sempre a mesma reação.

- O que você escreve?
- Contos, poemas...
- E você é bom?
- Talvez, não sei. É o que me mantem aqui, devo ter algo. Ou sou apenas um grande charlatão.
- Hm, não, você tem cara de escritor. E é engraçado.
- Obrigado, acho.
- Eu sou enfermeira.
- É mesmo? Bacana.

Não me interessei muito, o show estava realmente bom.

Ao longo da noite ela percebeu que eu bebia para viver, ou vivia para beber, nem eu sabia aquela altura.

- Você tem talento para isso.
- Aprendi logo cedo.
- Tome cuidado, isso pode acabar com você e com seu outro talento.
- Eles andam juntos, quase como irmãos siameses.

Era impressionante como aquele sentimento de cuidado e preocupação surgia com frequência quando uma nova mulher aparecia em meu caminho. Não há como negar, de certa forma era estranho, mas sempre me agradava. Tenho essa ligação com os cuidados femininos.

Sabia que tinha conquistado ela, então depois me deu seu número e longos sorrisos. Conversar com ela era agradável. Eu tinha encontrado uma nova paixão, os cheiros e os perfumes, Raquel tinha um excelente aroma que me laçou de tal maneira. Ela se foi, o show acabou e todos aplaudiram. Paguei a conta, deixei uma gorjeta e também fui embora.

Passei por um boteco para comprar cigarro e uma garrada da mais bela e marcante paixão de toda a minha vida. Eu te amo minha aguardente.

- Ei, rapaz!

Olhei para trás.

- Você mesmo moço bonito.

O sorriso de fumante era inconfundível.

- Noel, seu safado! E eu achando que iria me dar bem essa noite.
- Há há, ainda dá tempo.
- Amor, eu estou bem aqui. – Repreendeu-o Ana.
- Estamos apenas brincando. O que está fazendo?
- Acabei de sair de um grande show, vou para casa.
- E saiu desacompanhado?
- Hoje sou toda dessa beldade. – Levantei a garrafa.
- Nunca se separam né? – Disse Ana.
- Você precisa perguntar? Há há. – Respondi.
- E o trabalho? Quando teremos algo novo?
- Tenho pensado em um novo projeto.
- A é? Como seria?
- Roteiros.
- Uau, que foda!
- Gostei.
- É algo que venho pensando há um tempo. Quero me arriscar.
- Você vai se dar bem, pode apostar.
- Obrigado, Ana. Bom, não quero tomar o tempo de vocês.
- Vai tomar outra coisa já já. – Disse Noel.
- Quer carona?
- Nããão, eu vou sozinho.
- Você está a pé Leo.
- Ela vai me levar para casa – Levantei a garrafa. -, assim posso pensar, dar uma relaxada.
- Tem certeza?
- Sim, boa noite.
- Pra você também.

Ana sempre faz muito por seus amigos, valorizo isso nela. Não queria me aproveitar.
Andava com minha garrafa na mão, um cigarro na outra e as ruas vazias, eram os velhos tempos dando um alô. A noite havia sido boa, conheci uma garota excelente, revi amigos, ótima música e minha amada me aquecia novamente. Esbocei um sorriso, uma tragada em seguida, grande desfecho.

...

...

...

Abri os olhos devagar, estava tudo girando. Veio como uma bala, minha cabeça explodia. Quanta dor. Aos poucos retomei minha consciência e a visão. Sentia o chão quente, era o asfalto grudado em meu rosto, ouvia vozes, algumas pessoas ao redor e uma forte luz vermelha piscava.

- Ele está acordando.
- Calma, devagar.
- Mmm... Mas que... – Era difícil falar, minha cabeça estava a mil. - Que porra aconteceu?
- Devagar, olhe para mim. Cuidado com o pescoço.

Não reconhecia o cara, nem onde eu estava.

- O senhor sofreu um acidente, foi atropelado. Fique calmo, vamos leva-lo par ao hospital.

Sentia o sangue em minha cabeça.

- Porra!

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