domingo, 15 de julho de 2012

Papa, Maman, É Um Prazer Conhece-los

O sol se escondia atrás das nuvens e uma leve brisa esfriava nossas mãos e narizes desprotegidos. Mél comia um pão de queijo acompanhado de uma xícara de chá, ela também lia um livro de poemas de Fernando Pessoa. Eu lia meu jornal enquanto tomava uma grande caneca com café bem forte. Esse era outro hábito que herdei de meu pai, canecas e canecas cheias de café e cada vez menos açúcar. As pessoas falam a respeito do álcool, do cigarro, da maconha e do crack, mas poucos querem abrir seus olhos para essa droga que nos rodeia, chamada açúcar. O maldito pode ser pior que as demais drogas. Entre em uma padaria ou em um supermercado e faça uma lista de cinco coisas que tenham açúcar e outra que não tenha uma grama. Qual será mais fácil e rápido de encontrar?

- Você não contou como foi em Paraty.

Ela se referia ao festival de literatura da Flip, em que se reúnem diversos
escritores para debates, amostras de seus trabalhos e por ai vai.

- Não foi grande coisa... Diferente dos outros anos, este foi terrivelmente monótono, não me contive e fiquei completamente embriagado durante a maior parte do tempo.
- Que novidade.
- O ultimo dia, que em geral é o mais vazio e chato, recebeu o maior público, mas não quer dizer nada, afinal os dois debates foram como um papo entre comadres. Não houve discussão, apenas concordâncias. Uma grande perda de tempo, se eu estivesse sóbrio.
- Por que tudo te leva a esse caminho?
- Todo dia é dia, só muda de nome.
- Você nunca está satisfeito com as coisas como estão.
- E você está? Nunca devemos nos dar por satisfeitos com nada e com ninguém.
- De onde saiu isso?
- Eu li uma vez em um livro de autoajuda.
- Agora sim, tudo faz sentido outra vez.

Era um sábado agradável, a cidade parecia menos agitada. Estávamos no carro dando uma volta após o café da manhã.

- E então, os seus pais viram esta noite?
- Sim, e, por favor, você se comporte durante o jantar, senhor Cocain. – Ela me olhava de um jeito que eu pularia daquele carro ainda em movimento se fosse de sua vontade.
- Quando eu te decepcionei minha linda?
- Não vamos entrar nesse assunto, pois você sabe que duraria horas.

Fiquei calado.

Olhei para o semáforo que nunca acendia a luz verde, e refleti sobre tudo por alguns segundos.

- Eu serei aquele que escreverá sobre o fim do mundo.

Fomos até o salão de beleza, Mél tinha hora marcada para fazer cabelo, unha e sei lá mais o que. Joseph, o cabeleireiro nos recebeu.

- Menina, mas que cabelão lindo!

Ele era uma bicha magricela, cabelo espetado, sorria o tempo inteiro. O problema era sua voz, típica, aguda, alta.

- E esse deve ser o seu bofe, encantada em recebê-los em meu estabelecimento.
- Oi Jô, quanto tempo. Nossa como as cosias mudaram aqui, incrível!
- Ai, menina... Tem sido uma loucura! Mas Graças ao nosso bom Deus tem dado tudo certíssimo.

Eles riam, eu não entendia metade do que eles falavam. Aliás, todos naquele lugar falavam, era uma feira, um num tom maior do que o outro.

Passei horas sentado esperando, até que me cansei daquilo tudo, era muito barulho. Decidi dar uma volta, é claro, procurar por um lugar onde houvesse cerveja barata.

Encontrei um boteco, apenas um velho sentado tomando uma. Pedi uma garrafa para acompanha-lo, ele me olhou nos olhos quando entrei e me cumprimentou, parecia ser muito sábio e simpático, gostei dele.

- Então, o que te trás até aqui? Não é deste bairro, certo meu jovem?
- Não, não sou mesmo. Minha mulher está no salão, não aguentei muito tempo e vim respirar um ar puro.
- Com uma cerveja gelada, muito esperto!

Rimos despreocupados.

- Não consigo passar perto daquele salão, o bicha de lá sempre fala muito e muito alto, dói meus ouvidos.
- Eu não entendo o que os gays de hoje em dia ainda reclamam, eles já conquistaram muita coisa nos últimos anos e ainda reclamam da falta de direitos?
- Nem me fale, no meu tempo eles não podiam sair do armário, hoje eles se apertam por todos os cantos.
- Se eu acender um cigarro aqui dentro, posso ser preso, no mínimo alguém terá de pagar uma multa. Eles podem se beijar, se casar, fazer o que quiser, até adotar um filho, mas ainda assim querem brigar?
- Um brinde aos velhos tempos!
- O senhor é quem manda, eu estou só de passagem.

Voltei para o salão depois de quase quarenta minutos bebendo com o velho. Paguei por tudo, elogiei o resultado olhando em seus olhos durante alguns segundos, para mostrar confiança no que dizia, e então voltamos para casa.

- Bom, vou me arrumar. Preciso tomar um banho e escolher algo para vestir. Você também faça o mesmo, tá?

Olhava enquanto ela se despia, seu corpo é magnifico.

- Eu prefiro você assim, não precisa de roupa alguma.
- Sim, para encontrar com meus pais.

Eu sorri para ela, a mensagem foi clara. Mélanie largou suas roupas no chão e veio em minha direção, eu já estava deitado na cama. Passou a perna por cima de mim e montou. Suas pernas macias me aqueciam, agarrei firme sua bunda, com as duas mãos.

- Eu odeio quando você faz isso.
- A é? E por que meu lindinho?

Desgraçada, ela sabia exatamente o porquê e queria me ouvir dizer. Maldito instinto dominador que ela tinha aquilo me excitava!

Segurei na cintura e peguei a coxa com a outra mão, como se estivéssemos em uma luta livre rolamos, para o lado. Eu estava por cima agora.

Aproximava meu rosto ao dela devagar, coloquei seu cabelo atrás da orelha olhando fixo para seus lábios. Suas pernas me laçaram e como dois animais exalando tesão, transamos. Às vezes me sentia como um monstro perto dela, uma espécie de Jim Morrison no fim da vida, a barba enorme, a barriga crescendo, mas sem tanta fama ou dinheiro como ele. E ela cada vez mais linda e sexy com um cara desses em cima dela, era um pensamento horrível me imaginar diante de seus olhos.

O sexo com ela era natural, selvagem e inovador, cada transa é diferente, melhora a cada metida.

Fomos encontrar os pais dela em um restaurante de comida burguesa, não lembro qual era a especialidade da casa, o que me lembro é que não seria nada barato. Para a ocasião eu tomei banho e vestia minha melhor camisa social, preta como sempre e tinha aparado a barba depois de quase quatro meses.

- Minha filha! Mas que saudade! – Disse o pai dela.
- Meu amor, você está linda! – Disse a mãe.
- Papa, Maman esse é meu namorado, Leonard.

Ambos estavam muito elegantes. Aparentavam ter entre 60 a 75 anos, muito bem fisicamente e de saúde, como Mél já havia me contado antes.

- Bonjour, é um prazer finalmente conhece-lo pessoalmente.
- Digo o mesmo. Estou encantado, a senhora é tão linda quanto sua filha.
- Mas que galanteador, estou lisonjeada.
- Trouxe um pequeno presente. – Entreguei a caixa de uísque.
- Mas que belo presente! Muito obrigado.

O pai se chamava Bernard, e a mãe era Noelle.

Comíamos e bebíamos em um jantar agradável, sem nenhum problema causado por mim, o que Mél temia antes.

- Então, Leonard você é um escritor muito bom e sincero.
- Obrigado, Bernard. Fico feliz em saber que meu trabalho chegou até uma pessoa com o senhor, e ainda mais feliz por tê-lo agradado. – Eu sei ser educado e formal quando necessário.
- Mas o que eu deveria sentir ao ler sobre sexo e imaginar a minha filha nesse livro? – Ele estava ficando bêbado.
- Bom... – Pensei, pensei muito antes de responder – ao menos não é sobre outra mulher, não é mesmo?

Ele poderia ter uma arma mocozada dentro de seu paletó e iria usa-la para me matar naquele momento. Ou então ele quebraria aquela garrafa caríssima de uísque bem no meio da minha testa. Mas sua reação me surpreendeu muito mais.

- Há há há! O mundo está precisando de homens como você, sinceros e confiantes em seu dom. Você será grande, meu filho! – Ele dava tapinhas nas minhas costas e sorria.

Tive de respirar fundo e tomar uma grande golada depois daquela.

- Diga-me, além de escrever livros, o que mais você faz Leonard?

Olhei para Mélanie, ela sabia o que eu responderia: “Eu não faço nada, meu subconsciente é quem trabalha de verdade. Eu só preciso de uma garrafa como está para liberta-lo e deixar a coisa fluir num pedaço de papel qualquer...”, ou algo do tipo.

- Eu já tentei ser músico, tentei usar meu diploma para alguma coisa, mas nada foi tão impactante na minha vida quanto à escrita. Ela é a única que consegue me atingir de verdade.
- Mas que lindas palavras! Você realmente ama seu trabalho. – Disse Noelle.

A noite seguiu seu caminho sem grandes surpresas. Impressionantemente agradável e levemente bêbado, até eu estava surpreso quando chegou a hora de me despedir deles. Os três ficariam na casa de Mélanie.

- Vejo que minha filha está em boas mãos. Continue cuidando bem dela.
- É um prazer estar ao lado de uma mulher tão encantadora como a sua filha, senhor. Obrigado pela noite muito agradável. - Respondi Bernard - E obrigado pela belíssima presença está noite. – Falei me direcionando para Noelle.

Mélanie me acompanhou até meu carro.

- Obrigada por isso, meu querido.

Seu sorriso mostrava que meu esforço valerá a pena.

- Não se preocupe, eu cuidarei bem de você.
- Eu sei disso.

Nos beijamos e ela se foi. Foi uma grande noite, merecia uma comemoração, então se Mél estaria com seus pais em sua casa, eu estaria comemorando com a minha garrafa de uísque caríssima, ou você pensou que eu iria dar uma daquelas para ele e depois iria tomar cachaça num boteco?

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