quarta-feira, 9 de maio de 2012

Caminhando Pela Arte

O casal perfeito andava pela rua de mãos dadas. Não brigávamos, não discutíamos, nada atrapalhava nossa relação de amor e carinho. Distribuindo sorrisos que transpareciam tudo isso, toda esta felicidade... Pro inferno com a perfeição!

- Vamos meu amor, acabe com esse cigarro logo para podermos entrar.

Nós estávamos indo a uma exposição cultural. Música, quadros, poemas, etc.

- Tá legal, já apaguei.

Começou um tumulto próximo a entrada da exposição. Eram dois caras, um gordo careca e o outro tinha uma cara de psicopata, era vesgo e tinha a cabeça quadrada.

- Parem com isso! Alguém separe eles... – Gritou uma mulher desesperada.

Dois animais fora de si, o instinto dominando o autocontrole. Podia sentir o cheiro do sangue, comecei a salivar e forçar a mandíbula. Punhos fechados, olhos fixados no psicopata, eu queria acerta-lo até quebrar seus dentes.

A violência era contagiante, trazia pensamentos negativos carregados com raiva. Minhas discussões com Mélanie, minhas bebedeiras, a merda dos meus machucados no rosto, minha infância... Tudo chegava sem pedir passagem.

- Me tire daqui.

Entramos, respirei fundo e engoli tudo aquilo. Poderia derrubar qualquer um naquele momento.

- Mas que quadro lindo. – Exclamou Mélanie.
- São dois pássaros trepando... A cor é bonita, vermelho.
- Que chato você. Que tal este?
- Duas garotas se beijando nuas... Apenas pornografia barata, como se eu gostasse disso.
- Meu deus! Difícil te agradar hoje.
- Sempre é assim não é? Aqui, deste eu gostei.
- É só um ponto em um quadrado branco.
- Sim. Você não precisa pensar, não tem de interpretar merda nenhuma, sem complicações.
- Por que é só um ponto.
- Por que é um infinito, é tudo o que você quiser ver. Não há barreiras para este tipo de arte.
- Você vê coisas que somente sua mente é capaz. Tem certeza que diminuiu a bebida?

O garçom veio em nossa direção. Na bandeja havia uísque e Martini.

- Aceita algo? Um bom uísque? – Colocou no copo.
- É... Mas é claro, por que não? Ei, enche isso ai.

Mél me olhava com faíscas saindo dos olhos.

- O que? Seria falta de educação não aceitar.

Continuamos o passeio. Uma linda melodia se aproximava, me concentrei nela. Então, era como se não houvesse mais nada, mais ninguém. Apenas a escuridão, a lua, as árvores, as estrelas, aquela melodia. A música dançando por dentro dos meus ouvidos me dando choques na espinha. Era Beethoven, 7° sinfonia.
Os poemas eram pregados nas paredes de madeira posicionadas como em um labirinto. Gostei da ideia, representava a mente de um poeta, confusa, fria, com apenas uma única saída.

- Achei.
- Me colocaram por último.
- Guardaram o melhor para o final.

“Olho para ela e mando mensagens com o olhar.
Parecendo notar, começa a rebolar.
Ela sempre me responde com o quadril...
E que quadril, puta que pariu...

Cabelos longos, lábios rosados.
Logo fico excitado, é incontrolável.
Quero agarra-la, penetra-la, maltrata-la.
Mas que gostosa, não, não rebola...
Não faz assim...
Droga, é o fim...
Gozei.”.


- Quando iria me imaginar com alguém tão romântico?
- Não seja irônica comigo.
- Me desculpe. Eu gostei, é claro. Só estava brincando seu nervosinho.
- Vamos embora, estou faminto.

Sem perceber, sai com o copo nas mãos. A confusão já tinha acabado, a exposição estava lotada. Olhei para ela e disse:

- Mél...
- Sim, meu querido.
- Você sabe... Eu... ‎Tenho seu amor carinhosamente guardado dentro de mim... Em forma de câncer.

2 comentários:

a lua P disse...

Gosto muito do que você escreve e - não sei a razão - sempre teimo em me surpreender. Você tem essência... E isso é o que mais falta hoje em dia! =)

Leonard Sevilhano disse...

Obrigado, não sei muito bem o que te dizer além disso... ha ha ha. Espero que continue se surpreendendo e gostando dos contos. E que eu não beba toda essa essência, para que ela dure por muito tempo!

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