quinta-feira, 1 de março de 2012

O Caminho Para o Próximo Bar de Whisky

Há dois dias, eu havia me encontrado com um dos caras que me paga pelos meus escritos. Ele estava puto, afinal, fazia semanas, talvez meses que eu não lhe entregava nada, nem um misero conto. Nós nos encontramos em um bar, ele gritava enquanto eu me mantinha calado, ele então bateu a minha cabeça contra a mesa, apontou uma arma para minha têmpora e disse que estava farto de pagar por minhas bebedeiras e de não receber nada em troca. O garçom conseguiu acalma-lo e deixar a arma sobre a mesa, eu a peguei, disparei contra o teto e disse que ele teria três contos até sexta.

Eu tinha apenas mais uma noite para terminar o último conto, estava trabalhando duro em minha máquina de escrever, fumaça para todos os lados, uma garrafa de uísque ao meu lado e dúzias de folhas para serem preenchidas. A noite seria longa. Mélanie ia sair com umas amigas, o que me ajudaria, já que com ela por perto, minha cabeça estaria dentro de suas pernas, literalmente...

- Estou indo meu amor, não vá forçar esta linda cabecinha demais e nem o seu fígado seminovo, ok?
- Vá, se divirta, não demais e fique tranquila, estou bem.

Trocamos beijos e ela se foi.


Faltava apenas uma página para acabar meu trabalho, já passava das 3 da madrugada, eu decidi ir até o bar lá embaixo para me reabastecer com cigarros. Arthur, como sempre, ficava lá até o último bebum se manter em pé. Comprei meus cigarros, dei-lhe uma boa noite e muita sorte. Quando sai do bar, já estava para subir as escadas, olhei para o lado e vi Mélanie chegando.

Ela saiu de um carro, era um Gol preto. Do lado do motorista, desceu um cara, magrelo, loiro, cara de bobalhão e narigudo. Meu sangue ferveu naquele instante, mas me contive imediatamente. Esperei eles terminaram de se despedir, o magrelo cabeçudo a abraçou com carinho, sorriu e olhou diretamente nos olhos dela e ela retribuiu, novamente meu sangue fervia dentro de minhas veias.

Mélanie me olhou surpresa, notou rapidamente a expressão em meu rosto.

- Olá, o que você faz aqui fora a esta hora? Não estava me vigiando, certo?
Olhei diretamente nos olhos dela, olhei para o carro preto, então respondi:
- Apenas vim garantir minha morte. Não, não estava vigiando ninguém, mas se estivesse, teria algo para ser vigiado?
- Mas é claro que não! Você não confia em mim?

Torci meus lábios, franzi a testa e a mandei entrar. Ela, sem entender o que se passava, seguiu em minha frente. Tinha as chaves do meu carro e a do meu apartamento em mãos, num ato de impulso, me virei, corri para meu carro parado lá fora. Mal pude ouvir os gritos de Mélanie questionando minha atitude de pura estupides alcoólatra.
Eu acelerava meu Impala como se estivesse em um hipódromo, com o prêmio em meus olhos e nada iria me neutralizar para não alcança-lo. Maldito cabeçudo com cara de bobo, eu queria mata-lo!

A rua estava vazia e eu apenas acelerava, estava cada vez mais próximo. Eu ia faze-lo parar, então o ultrapassei, fechei seu carro, quase tocando um veiculo no outro, mas consegui tomar sua frente. Freei, saia fumaça pelas laterais do meu carro, consegui o que queria. Descemos do carro ao mesmo tempo.

- Ei, seu imbecil! Que porra você tá fazendo?!

Eu apenas me aproximava dele, com os punhos cerrados, ódio em meus olhos e o silêncio, nada me distraia, nada passava pela minha cabeça, nada.

Ele apenas me olhava, amedrontado, sem saber o que fazer ou o que iria acontecer. Acertei um direto em seu rosto, segurei pela gola de sua camisa e mandei mais três em seguida. O sangue escorria pela sua boca. Peguei pela parte de trás de sua camisa, o joguei sobre o capo do carro, bati sua cabeça contra ele duas vezes.

- Escuta muito bem: É melhor você nunca mais chegar perto dela, não quero mais saber de nenhum tipo de relacionamento entre vocês. E eu não quero saber se essa merda é ou não certa, eu te mato, te faço engasgar com os próprios dentes, entendeu seu merda?!

Ele mal conseguia falar, estava sufocado com seu próprio sangue e suas lágrimas. Loiro cabeçudo desgraçado, eu queria matar ele naquele momento, mas sabia que não era a hora para isso.

Deixei-o lá, choramingando por uma boa surra. Peguei meu carro e voltei para o conforto da minha caverna de pensamentos e fumaça. Aumentei o volume do radio, The Doors - Break on Through (To the Other Side), eu estava indo para muito longe dali.

Quando voltei para casa, Mélanie me aguardava sentada em minha poltrona lendo meus textos. Nós nem sequer trocamos insultos, discutimos ou algo parecido, ela sabia o que eu fui fazer, o sangue em minha mão e, principalmente, meu olhos não conseguiam engana-la nunca.

Uma nuvem de fumaça dançava para mim, Mélanie dormia deitada com sua cabeça em meu peito, nua, com seus seios encostados em minha barriga e eu a acariciava devagar e com carinho. Não conseguiria dormir aquela noite, afinal o dia destrói a noite, a noite divide o dia.

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