segunda-feira, 18 de junho de 2012

Três Lados Da Mesma Verdade

- Acho que não deveríamos por preço na arte, mas se é necessário, ninguém melhor do que um apreciador dela.
- Sim, mas como é a minha arte, eu acho que eu, como criador, posso por o preço que me for agradável.

Ele não sabia o que dizer.

- E o preço pela minha arte é 25 por poema e 50 por conto... – Me levantei, pronto para ir embora.
- Não, espere. Acho que como autor, você pode ter razão. – Me deu aquele olhar de raiva misturado com insatisfação e derrota.

Não me sentei enquanto ele não começou a assinar o cheque e outra dose de uísque não fosse entregue para mim. É impressionante como esses caras pensam que marcando uma reunião em um bar suas chances de me levar no bolso é fácil. Pelo contrario, as chances apenas diminuem, afinal, esta é a minha casa.

Voltei para casa, a outra, algumas horas depois com o carro lotado com sacolas de supermercado, era a primeira vez que eu fazia compras. Entrei, Mélanie me aguardava.

- Onde você estava? – Havia algo diferente nela.
- Oi pra você também, bom dia, tudo bem? Também senti sua falta...
- Pra que a ironia? Desde quando você faz compras?
- Ei, vá com calma mulher.
- Você está estranho.
- Mas o que? Eu acabei de chegar. Mél, eu tive aquela reunião hoje. Peguei um bom cheque e pensei em poupar o seu trabalho, então comprei algumas coisas para a casa.
- Hm.
- Vamos, me de um beijo.
- Seu... Bêbado. – Ela sempre tem de dar uma resposta.

Guardei as compras enquanto Mélanie lavava aquele corpo fenomenal. A água deslizando sob a pele macia de suas pernas, suas mãos delicadas ensaboando os seios, a barriga, o umbigo... É melhor mudar o foco.

- Já guardou tudo? O que você tem hoje?
- Há há, não há nada. Apenas quero te agradar meu amor.
- Ótimo, e agora o que faremos a tarde toda?
- Faremos o que você quiser. Hoje o poder é todo seu.
- O que é isso? Nenhuma insinuação sexual? Você não está excitado? Você está sempre excitado, treparia com suas garrafas se o buraco fosse maior.
- Mél, que porra é essa?!
- Vamos ao cinema, quero ver um filme romântico pra variar.
- Tá, você manda.

Ela me olhou feio, se virou e foi colocar uma roupa. Vesti uma camisa qualquer por cima da que eu já usava, estava pronto.

Mélanie mal falou o caminho inteiro, fiz o contrário. Contei sobre a conversa que tive recentemente com meu pai, sobre a reunião que tive, sobre o preço alto dos alimentos no mercado, sobre muitas merdas, para pelo menos falar algo.

O cinema estava razoavelmente ocupado, pegamos a sessão das 18 horas para “Meia Noite em Paris”, pensei que ela iria gostar de ver sua linda Paris no telão do cinema. O filme narra à história de um cara que tem o sonho de se tornar um escritor, então ele acaba virando roteirista em Hollywood, fica com uma boa grana, vai pra Paris com a mulher e os sogros, então lá ele volta aos velhos sonhos com a escrita. Uni nossos caminhos, Paris e literatura em uma escolha cinematográfica para agrada-la como fosse possível.

Após o filme, saímos para dar uma volta na rua.

- Está com frio?
- Não. - Ela olhava para o chão.
- Você está bem?
- Sim.
- Gostou do filme?
- Sim.
- Hm... A lua está linda esta noite, olhe quantas estrelas ao seu redor. Ela brilha como um farol à beira do mar.
- É...
- Mél, você está mesmo bem?
- Sim, já disse. Vamos para um bar!
- Você querendo ir a um bar?
- Qual o problema? Sempre gostei de bares e bebidas.
- Nunca disse dessa maneira, toda animada.
- Você sempre falava primeiro, ou eu tinha de ir te buscar torto em um boteco.
- Não é assim...
- Anda, vamos logo!

Ela escolheu o bar, apenas dirigi. Fomos justamente ao Coronel, o bar que fui expulso diversas vezes por brigas, discussões com travestis que ficam por lá, excesso de bebedeira... Mas era a vontade dela.

Lugar cheio, caro e chato.

- Olá, eu vou querer uma caipirinha de maracujá.

O garçom não tirava os olhos dela.

- Ei, amigão! Me trás um uísque, caprichado hein!
- Tá. – Ainda a olhava.
- Ei, vai logo! – Ordenei ao maldito.

Poucos minutos depois e ele voltou.

- Aqui está moça.
- Obrigada, você muito simpático.
- Quanta gentileza... O do senhor.
- Trás a garrafa, isso não tá caprichado.
- Não podemos, me desc...
- Trás a merda da garrafa antes que eu enfie esse copo no...
- Verei o que posso fazer.

Babaca...

Ganhei outra dose e um olhar hostil de brinde.

- Não precisava disso.
- Não me diga o que fazer.
- Estúpido.

Bebíamos calados. Passei o dia tentando agrada-la, fazendo tudo por ela, e tudo o que eu ganhei foi um “estúpido”, aquilo estava me cansando.

- Como anda o trabalho?
- Bem.
- E você?
- Bem, também.

Foi isso, duas horas bebendo em um lugar onde eu não era bem vindo com a minha mulher cada vez mais distante e no fim da noite fomos expulsos por que eu quebrei a garrafa de uísque no garçom. Não se preocupem, a garrafa já havia sido esvaziada, a cabeça do garçom também.

Chegamos em casa sem trocar um olhar, ambos bêbados. Bati a porta.

- Vai começar Leo?
- Não me fode a cabeça.
- O que há com você? Tem agido estranho o dia todo!
- Que diabos Mélanie! Eu passei o dia tentando te agradar.
- Por quê? O que aconteceu?
- Eu quero te fazer feliz, é difícil entender?
- O que você está escondendo?
- NADA MULHER!
- E a carta da “sua mana”???
- Quem?
- Sua mana! Na carta ela dizia o quanto sentia sua falta e que quer te ver logo e quer saber da sua vida e do nosso relacionamento...
- Respire um pouco.
- Não me diga o que fazer! Por que ela se refere a mim como “loirinha”?
- Mélanie se acalme. – Comecei a rir.
- Desgraçado, pare de rir. Você tem outra!
- Desculpe por isso...
- Não!
- Porra, me deixe explicar! Pare de me interromper...
- Não há o que dizer...
- É a minha irmã...
- Você me traiu, não teve a decência...
- Mél...
-... De me dizer, nem mesmo de esconder...
- Mélanie...
-... Deixou a carta largada sobre a mesa...

Peguei-a pelos braços e beijei-a com força, ela, bêbada, não resistiu. Calou-se.

- Mélanie, a minha “mana” é minha irmã. Ela está com saudades, quer te conhecer por que eu contei sobre você e o que você fez por mim me transformando em um homem melhor.

Ela não sabia como reagir. Seus olhos molhados expressavam alivio. Suas bochechas rosadas mostravam vergonha. Seus lábios aos poucos diziam algo... Ela vomitou no carpete. Entre lágrimas, vômitos e água do chuveiro, ela me pediu perdão. O amor causa muitos sentimentos, um deles é o ciúmes, e o é ciúmes mostra a reação da pessoa diante das três verdades de uma relação: A minha, a sua e o verdadeiro ocorrido.

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